A garota, de 15 anos, ficou conhecida após polêmicas quanto ao seu padrão de vida. Em entrevista exclusiva à Glamour, a moradora de Paraisópolis conta toda a verdade por trás dos fatos e diz não gostar do título “it girl do rolezinho”
Quando os “rolezinhos” tomaram conta de São Paulo, muita gente ficou confusa sem saber do que se tratava. Os encontros, promovidos por jovens da periferia paulistana em shoppings center e parques abertos, tiveram intervenção da polícia municipal e, claro, foram confundidos com atos de vandalismo vistos anteriormente nos manifestos que tomaram conta do país. Entre as características do “rolezinho” estava a paixão dos jovens pelo funk ostentação. E se no gênero musical o consumismo é um traço, na “vida real” trataram de arrumar uma it girl do rolezinho. Trata-se de Yasmin Oliveira, de 15 anos, que por sinal não gosta nada do título atribuído a ela.
Moradora da favela de Paraisópolis, a garota alcançou fama nas redes sociais. Pro bem e pro mal. A gente explica: após matéria publicada na revista Veja, que dizia que a mãe (que trabalharia como diarista) de Yasmin não comprou até hoje uma casa própria porque o dinheiro que ganhava era para sustentar o nível de vida alto da filha, mãe e filha receberam uma enxurrada de críticas na web. Mesmo com vídeo no qual Maria José, mãe de Yasmin, afirmou ser tudo mentira, a garota já estava sendo amada e odiada pelo Brasil inteiro.
Depois de aparecer no dominical Fantástico, seu número de seguidores no Facebook, que era de 84 mil pessoas, já ultrapassa os 104 mil. A equipe da Revista Glamour subiu até a casa de Yasmin em Paraisópolis para entender melhor a história da menina da favela que, como muitas de sua geração, é apaixonada por moda. De lá, a garota posou para nossas lentes e desabafou sobre o polêmica posto de it girl. Confira:
GLAMOUR: Em muitas reportagens estão dizendo que sua mãe passa necessidades financeiras para te dar tudo do bom e do melhor. De onde surgiram esses rumores?
YASMIN: Tudo começou quando falaram que minha mãe deixa de comprar as coisas para me dar roupas caras, o que é mentira. Não sei de onde tiraram isso. Minha mãe nunca deixaria de comprar alguma coisa, como comida ou algo do tipo, para me dar roupas. Nem eu exigiria isso dela.
GLAMOUR: Então por que disseram isso a seu respeito?
YASMIN: Olha, para te falar a verdade, eu não sei. Eu acho que foi pela foto que tirei. Eu quis mostrar a comunidade onde moro e as pessoas acham que quem mora na favela não pode ter roupas caras e de marca.
GLAMOUR: O que mais já inventaram sobre você?
YASMIN: Várias coisas. Que a gente não tem casa própria, por exemplo. Que a minha mãe é diarista, e ela não é. Ela trabalha como dama de companhia para idosos. Também foi falado que a gente passa necessidade. Disseram que minha família está inscrita em programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família, mas não estamos em nenhum desses programas do governo.
GLAMOUR: Acha que esses boatos têm a ver com você morar na favela?
YASMIN: Claro. Tem muitas pessoas que acham que quem mora na favela não pode ter as coisas. Só que tem muita gente na comunidade que tem condição financeira boa, sim.
GLAMOUR: Mas seu padrão de vida é mesmo alto?
YASMIN: Eu não uso tantas roupas caras, não. Por exemplo, minhas blusas custam em média R$ 100. Mas o que estão falando de roupas e tênis de grife, eu não uso.
GLAMOUR: Todas as suas coisas são dadas por sua mãe?
YASMIN: Sim. Mas, eu trabalhei por um tempo (dos 14 aos 15 anos) e todo o dinheiro que eu ganhava era pra ela. Então, hoje ela meio que me retribui. E eu também entendo quando minha mãe pode ou não me dar as coisas. Não fico “matando” ela pra conseguir roupas caras, como estão dizendo.
GLAMOUR: Com que frequência você vai ao shopping e quais marcas mais compra?
YASMIN: Todo final de semana eu vou ao shopping para comer, ir ao cinema e comprar. Uso muito Revanche e Planet Girls, que é o que a maioria das meninas que moram aqui na favela usa.
GLAMOUR: E quanto aos cosméticos?
YASMIN: Eu não ligo muito para isso. Uso maquiagem da Contém 1g, mas produtos de beleza não são minha prioridade. Gosto mais de comprar roupas e me vestir bem.
GLAMOUR: “Não tem dinheiro, não compra” foi uma das centenas de críticas que lhe fizeram. Como você reage a isso?
YASMIN: No início eu nem conseguia dormir direito. Sabe quando você dorme assustada? Com medo de alguma coisa? Porque eu estava recebendo até ameaças. Tudo por causa de uma coisa que não é verdadeira. Disseram tantas coisas. Que eu explorava minha mãe, a xingaram também. Chamaram minha mãe de pobre e burra. Eu fiquei muito mal com isso. Mas, teve uma hora que eu decidi parar de levar para o lado pessoal porque tudo aquilo não era verdade, embora estivesse me afetando muito. Agora, eu não vou falar que deixo de me preocupar, mas não me importo mais tanto e também procuro evitar o máximo de ver quando falam coisas negativas.
GLAMOUR: Você recebe muitas mensagens ofensivas?
YASMIN: Críticas, não. Muitas pessoas chegam para me falar “Yasmin, você sabe quem você é. Quem te conhece sabe quem você é, então não liga para essas coisas”. Muitas pessoas já vieram falar isso pra mim, e é o que está me dando força. Minha família toda também está me ligando, preocupada, querendo saber como eu estou e me dizendo para não dar bola para esses comentários. Eu estou muito tranquila.
GLAMOUR: Seu perfil no Facebook já tem mais de 100 mil seguidores. Como começou essa “fama”?
YASMIN: Eu acho que começou por causa das fotos que eu tiro. E também porque eu procuro ser educada, responder todo mundo e tratar as pessoas bem.
GLAMOUR: Como tem sido nas ruas, academia, lugares que frequenta?
YASMIN: Na rua, as pessoas me reconhecem como a menina do Fantástico, da Veja e eu fico muito surpresa, sem saber o que fazer, até porque eu não esperava tudo isso que está acontecendo. Mas, eu gosto, confesso.
GLAMOUR: E sua fama no rolezinho, como começou?
YASMIN: Acho que começou por causa das fotos mesmo. Elas querem ver como é, perguntam até como eu edito e pedem para tirar fotos comigo. No sábado passado mesmo eu tirei mais ou menos umas 70 fotos com um monte de gente no rolezinho que teve no Ibirapuera.
GLAMOUR: A propósito, o que você acha do rolezinho?
YASMIN:O rolezinho é um encontro de amigos, que encontram mais amigos, mais amigos, mais amigos, sabe? Quando você vê tem tanta gente que não dá nem pra saber de onde veio. Algumas pessoas se aproveitam disso, mas o rolezinho em si é para conhecer pessoas novas, tirar foto, para encontrar as meninas que dizem gostar da gente. Aliás, se cada comunidade tivesse uma praça ou um lugar onde a gente pudesse fazer esses encontros, eles não aconteceriam em shoppings. Mas, a gente não tem para onde ir. Seria ótimo se tivessem mais espaços para o jovem na periferia.
GLAMOUR: Concorda com a definição dada pela mídia de que o rolezinho foi feito para “ídolos da periferia se exibirem e ganharem fama”?
YASMIN: Não. Até porque eu não me acho famosa.
GLAMOUR: Você chegou a ver algum confronto entre participantes do rolezinho e a polícia?
YASMIN: Eu não vi, mas tenho uma amiga que me contou que do nada os policiais começaram a bater em um menino que só a estava ajudando no rolezinho do shopping Itaquera. E eu acho isso errado porque tem muita gente que faz coisa errada, sim, mas também tem muita gente que vai lá para curtir.
GLAMOUR: Gosta do título de "it girl do rolezinho"?
YASMIN: Tem muita gente que me julga por isso, porque tem preconceito contra uma it girl da favela. Para falar a verdade, eu não me acho isso. Não acho que sou essa referência.
GLAMOUR: O que espera dessa “fama” repentina?
YASMIN: Nada. Até porque nunca imaginei que tudo isso fosse acontecer. Minha única prioridade sempre foi tratar as pessoas bem e estou colhendo os frutos disso.