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sábado, 3 de maio de 2014

MUSCULOSAS E SEXY! SIM, É POSSÍVEL!

Elas são musculosas e podem ser sexy, sim! Ficou surpreso?

O fotógrafo André Arruda criou, há dez anos, o projeto “Fortia Femina”, no qual clicou fisiculturistas nuas com o objetivo de mostrar como a mulher na sociedade brasileira é padronizada. Dez anos depois, o autor planeja lançar o segundo livro do mundo especializado nesta estética.

Monik Venturini

“Até que ponto uma mulher pode ter atributos físicos que remetem ''ao masculino'' sem perder sua feminilidade? E por que não poderiam?”. São esses os questionamentos feitos pelo fotógrafo André Arruda no projeto Fortia Femina, criado em 2004 e, dez anos depois, em andamento para tornar-se livro. Nas fotos, mulheres fisiculturistas tiraram a roupa e posaram como figuras anatômicas renascentistas, como o De Humani Corporis Fabrica, de Andreas Vesalius, e o Códex, de Da Vinci. Em conversa exclusiva, o autor contou para a editoria de moda e saúde da Revista Glamour de onde saiu essa ideia:

Glamour Brasil: Conta como surgiu esse projeto e sobre o processo criativo.
André Arruda: Começou em 2004. Estava nos EUA e vi na tv um concurso de bodybuilding, Arnold Classic, talvez. Até então não sabia que mulheres praticavam musculação naquele nível de modificação corporal. Sempre tive a beleza feminina com um dos principais motivos da minha fotografia e o nu autoral, não comercial, sempre me atraiu. Fortia Femina é um reflexo do crescente papel da mulher na sociedade brasileira. É um sinal do poder cada vez maior da mulher. Escolhi o fundo branco ao escuro (ou qualquer outro fundo) numa alusão clara às gravuras dos anatomistas renascentistas, em especial o De Humani Corporis Fabrica, de Andreas Vesalius, e o Códex,de Da Vinci. O fundo branco é neutro e isento. A luz é pontual;ilumino o que me interessa, deixando à sombra detalhes íntimos. Luz e sombra em dialética com o jogo do feminino e do masculino.

Ana Claudia Pires
Glamour Brasil: E como foi feita a abordagem das mulheres?
André Arruda: Fortia Femina é fruto de seu tempo. Apenas duas atletas foram abordadas por amigas minhas, que fizeram o contato inicial. As outras foram pelas redes sociais. Começou com o ''falecido'' orkut.

Glamour Brasil: Você viu muito preconceito sofrido por elas?
André Arruda: ''Sou um homem: nada do que é humano me é estranho'', frase do poeta romano Publio Terêncio Afro, cerca de 150 anos antes de Cristo, publicada na comédia ''Heautontimorumenos'', que em grego quer dizer ''O que pune a si mesmo''. O que é o tremendo esforço de levantar pesos, dietas radicais e a busca da hipertrofia muscular simétrica senão uma punição? É um sacerdócio.As fotos, além da investigação da beleza muscular feminina, jogam com as noções de gênero. Até que ponto uma mulher pode ter atributos físicos que remetem ''ao masculino'' sem perder sua feminilidade? E por que não poderiam? A mulher na sociedade brasileira é extremamente objetificada e padronizada.
O Brasil é o único país no mundo em que a nudez feminina numa capa de revista funciona como um diploma de notoriedade, e ao mesmo tempo, uma mulher não pode fazer topless na praia de Ipanema sem ''chamar a atenção''. O preconceito nos afeta na medida do desconhecimento e é uma forma primitiva de proteção. Quem não deve não teme. E só os idiotas não têm medo. As atletas fisiculturistas são mulheres de coragem. Força, substantivo feminino.Como autor ouvi várias piadas grosseiras e até emails agressivos sobre o ensaio. Experimentei essa agressividade que elas eventualmente recebem. É um sinal positivo que o trabalho tem êxito em despertar emoções.