Depois do segundo ataque que sofre este ano, o garoto de 19 anos, morador do bairro de Interlagos, em São Paulo, conta que não passa um dia sem que alguém mexa com ele na rua
Gabe Kowalczyk é um menino magrinho, de traços femininos e cabelo compridão, que chama a atenção e sabe disso. Entende que olhar é inevitável e não se incomoda que olhem. O problema é que poucas vezes as pessoas, principalmente os homens, se contentam em olhar. São raríssimos os dias na vida dele em que não ouve uma agressão do tipo: "Amiga, vem aqui" ou "Ah, bicha!"
Na quinta (25/06), a foto que ele postou no Facebook conta uma história pior. Ele foi perseguido, machucado e sofreu uma tentativa de estupro por três homens que diziam assim: "Você quer ser mulher? Então agora vai apanhar como mulher". "Acordei umas 6 e 15 da manhã e me troquei porque tinha uma entrevista de emprego. Coloquei a touca na cabeça, mas o cabelo é grande, sempre fica um pouco aparecendo e sempre alguém mexe comigo", conta ele. "Desci umas duas ruas para baixo da minha casa em direção ao ponto de ônibus. Não tinha andado nem 300 metros quando percebi que tinha três caras andando atrás de mim. Quando vi continuei de cabeça baixa e apertei o passo para chegar o mais rápido possível até a Miguel Yunes, uma avenida movimentada onde eu poderia correr para algum lugar. Estava a 10 metros da avenida quando eles chutaram a minha perna e me derrubaram. Caí de cara no chão, ralou tudo. Tenho um piercing no nariz e ele enroscou em algum lugar e me machucou muito. Tentei me virar e um cara mais gordinho virou meu corpo e os três começaram me dar chutes e socos, enquanto falavam: 'Sua bicha, seu ridículo, quer ser mulher então vai apanhar que nem mulher'. Meu corpo estava tão machucado que eu tentava gritar e só saíam gemidos."
Foi então que eles fizeram um movimento de estuprá-lo. "Puxaram o meu cinto e desceram a minha calça, enquanto falavam: 'Agora você vai apanhar como mulher." Um deles estava abaixando a calça também. Os carros passavam e ninguém descia para fazer nada. Mas de repente teve uma movimentação numa casa perto de onde estávamos e eles levantaram falando: 'Moiô, moiô' e saíram dizendo assim: 'Não acabou não, você vai ter o que merece.'
AJUDA POLICIAL
"Consegui me levantar e fui a pé até a base de polícia, onde caí no chão. O policial me pegou e foi muito atencioso, me colocou em um carro e me levou ao Pronto Socorro. Tive traumatismo craniano leve, lesão no tórax e no estômago e luxação nos dois tornozelos."
Não é a primeira vez que Gabe sofre violência. Já tinha acontecido no começo do ano, no mesmo bairro de Interlagos. "Fui encontrar o meu namorado e quatro nóias que já tinham mexido comigo vieram atrás. Eles estavam com um estilete e começaram a me agredir, queriam furar a minha barriga. Lutei para me desvencilhar deles e eles fincaram o estilete na minha perna, fiquei com uma cicatriz horrível. Tentamos procurar, perguntamos por aí e ninguém tinha visto.
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Minha família felizmente me dá muito suporte, todos são muito amorosos comigo. Meus pais sempre me respeitaram muito. Eu preciso de bastante coragem e eles me dão o apoio necessário para ter toda a coragem
'FAZ O SEU TRABALHO'
Fui até um posto policial e contei o que tinha acontecido. O policial falou assim: 'O que você quer que eu faça?' Eu disse: 'Faz o seu trabalho'. Eles não me deram nenhuma assistência, meu pai foi me buscar e me levou ao Pronto Socorro, onde tomei 4 pontos e muitos remédios. Fiquei um tempo em observação neurológica, porque estava confuso, meio atordoado, sem lembrar direito do que tinha acontecido por conta da batida na cabeça."
Por sorte, Gabe tem apoio total da família. Mora com seu pai e o namorado, numa casa que divide o quintal com a casa de uma tia e uma prima. A mãe não mora com eles, mas também é uma grande aliada do filho. "Minha família felizmente me dá muito suporte, todos são muito amorosos comigo. Meus pais sempre me respeitaram muito. Eu preciso de bastante coragem e eles me dão o apoio necessário para ter toda a coragem", diz ele.