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sábado, 4 de julho de 2015

SUPERAÇÃO: GORDINHA PERDE 80 KG E COLECIONA VITÓRIAS

Ex-obesa mórbida coleciona faixas de miss após perder 80 kg e retomar amor pelo corpo

Dez faixas de concursos de miss, 1,70 m e 60 kg. Informações que passam a ideia de uma mulher linda e de estrutura magra, certo? Hoje, podemos dizer que sim. Porém, quem apenas olha para Sabrina Sgarbi nem imagina que, em 2012, a jovem de 24 anos, de Marau, no Rio Grande do Sul, pesava 140 kg e mal conseguia se locomover.

De magra a gordinha: entenda a história de Sabrina

Sabrina engordou por uma série de fatores,
entre eles ingestão de remédios e descuido com a comida
A equação de uma pessoa que engorda pode até parecer simples: ingerir mais calorias do que se gasta. Mas, no caso de Sabrina, a história foi bem diferente. O ganho de peso foi gradativo e devido a uma somatória de fatores.

“Até uns 15, 16 anos, eu era magra, com cintura fina e bumbum e quadril maiores. Pesava entre 55 kg e 60 kg e nunca tinha sofrido com problemas de peso. Eu tinha um corpo bonito, sempre fui dessas meninas bem femininas e me sentia linda”, conta. Porém, nessa época, a gaúcha desenvolveu uma doença na amídala, como se fosse uma “hiper amigdalite”. “Não fiquei um dia sequer sem tomar remédio ou fazer tratamento. Eu não comia quase mais nada, porque tinha refluxo e, de tão grandes que minhas amídalas estavam, a comida não conseguia passar direito. Quando eu comecei esse tratamento, senti que passei a engordar. Tive também problema na tireoide. Além disso, tenho quatro casos na minha família de obesidade. Acho que o fator genético também contribuiu”, crê.

Além dos fatores, ela conta que também descuidou da alimentação. “Quando eu tinha quase 15 anos, fui morar junto com meu noivo. Me tornei vegetariana, mas não consultei nutricionistas e não sabia como ingerir proteína. Aí comecei a comer muito carboidrato”, explica. “Eu estudava, chegava cansada e não queria cozinhar. Entrei na onda da comida pronta: pedia lanche, pastel, pizza, e assim foi indo".

Chegou a obesidade mórbida: de 60 kg a 110 kg em 1 ano

Segundo a gaúcha, o processo de ganho de peso aconteceu em cinco anos, dos 16 aos 21. “Em todo esse tempo, eu engordei 80 kg. No começo, eu não via o perigo e nem o quanto estava piorando. Eu tentava correr atrás do prejuízo e até busquei melhorar. Consultei nutricionista, ia à academia, tentava fazer caminhada, mas nada dava certo”, conta ela.

De 60 kg, Sabrina foi para 110 kg em um ano. Depois, ao longo dos outros quatro, chegou aos 140 kg, que foi seu peso máximo. “Eu pensava: ‘se eu cheguei a 140 kg, brincando eu chego a 150 kg. Logo, logo, eu estaria com 200 kg’. E eu achava muita loucura pensar na possibilidade de atingir esse peso. Eu estava com muito medo de isso acontecer, de chegar a uma obesidade mórbida deste grau”, diz.

Preconceito

A gaúcha conta que sofreu muito preconceito em sua cidade, que tem aproximadamente 36 mil habitantes. “Todo mundo se conhece em Marau. Para a cidade, foi um baque me ver enorme daquele jeito. Sofri muito preconceito, muito bullying. Sempre que eu saía de casa eu escutava alguma piadinha. Ouvia ‘como você engordou tudo isso?’, ‘nossa, mas eu lembro de você tão bonita’. Foi muito difícil, eu que sempre me destacava por ter um corpo bonito, depois que engordei, fui alvo constante de críticas”, relembra com tristeza.

A gaúcha diz que foi muito difícil enfrentar o preconceito, mas o apoio da família e do noivo, à direita, foi fundamental
Sabrina diz que a família e a melhor amiga sempre estiveram ao lado dela. Mas o noivo foi o principal responsável para que ela não desmoronasse. “Ele me conheceu magra. Eu recebo muitas cartas e relatos de mulheres contando que os maridos as largaram depois que elas começaram a engordar. Ele podia muito bem ter feito isso, mas ele acompanhou toda essa minha transição ficando quase que 24 horas por dia do meu lado. Nunca me tratou com diferença: sempre foi o mesmo, quando eu era magrinha e depois com 140 kg. Era ele que aguentava meu choro, que estava ali do lado para dizer que tudo ficaria bem. A maioria dos homens não faz isso. No meu caso, essa parceria fortaleceu a nossa relação”, acredita a gaúcha.

Decisão de passar pela cirurgia bariátrica

Sabrina tentava fazer dietas, mas nada adiantava.
Ela alcançou 140 kg em cinco anos
Sabrina diz que houve um “momento-chave” que a fez tomar a decisão de se submeter à redução de estômago – porém, ela não revela qual é, guarda segredo para um livro que contará sua história. Mas ela dá uma dica: “Foi uma coisa que aconteceu em público e me fez enxergar o que estava de fato acontecendo comigo”, conta.

No entanto, o próprio dia a dia da jovem já era complicado por conta dos muitos quilos a mais: ela praticamente não podia sair de casa, não tinha fôlego para andar, não conseguia subir escadas por dor nos joelhos e sofria com problemas respiratórios que não a deixavam dormir. "Meu corpo estava gritando por ajuda”.

Dessa maneira, Sabrina viu a cirurgia como a única saída. “Foram cinco anos lutando, sem resultado. A obesidade é uma doença crônica. Acham que é coisa de gente folgada, relaxada. Mas não tem nada a ver com isso, eu estou de prova. Nunca fiquei sentada no sofá só esperando engordar – mas, engordei, e muito”.

Mesmo tendo tomado a decisão de operar, a jovem quase não tinha informação quase sobre o procedimento “Eu decidi pesquisar tudo que eu conseguisse sobre a bariátrica e montei meu blog e o canal de vídeos para passar o que eu estava aprendendo. Eu contei sobre o passo a passo da cirurgia, o pré e o pós-operatórios, exames, tudo". Toda essa dedicação ao tema fez com que ela se tornasse inspiração para outras pessoas e ganhasse muitos seguidores. Hoje, o canal do Youtube tem 25 mil inscritos e quase duas milhões de visualizações.

Ela procurou um médico especialista e entre a primeira consulta e a última antes da cirurgia, passou-se quase um ano e, segundo Sabrina, a situação ficava cada vez mais crítica. Ela passou pelo procedimento em 2012 e saiu do hospital já com uma dieta planejada. “Só fui comer ‘normalmente’ depois de três ou quatro meses”, lembra.

Emagrecimento pós-bariátrica: “A cirurgia vai ajudar, mas não vai fazer nada por você”

“Tem muita gente que julga quem faz bariátrica, dizendo que a pessoa fez porque era relaxada, porque não tem força de vontade para emagrecer sozinha. Mas não é assim. Temos inúmeros casos de pessoas que voltam a engordar depois da operação. Você precisa se cuidar muito. A cirurgia ajuda, mas não faz nada por você”, defende.

Em dois anos, ela perdeu todos os 80 kg que acumulou e hoje, aos 24 anos, pesa os mesmos 60 kg de sua adolescência. “No primeiro ano pós-bariátrica eu emagreci 70 kg, mas eu queria voltar ao meu peso original. A minha melhor amiga é minha nutricionista também, e foi ela a responsável por montar minha dieta. E eu comecei também a fazer exercícios mais frequentemente e cheguei ao meu objetivo, por enquanto”, explica.
No primeiro ano pós-cirurgia, Sabrina perdeu 70 kg e mudou os hábitos de alimentação e de exercícios físicos
Sabrina diz mudou completamente a alimentação, come certinho e na quantidade correta. Ela cortou a farinha branca e está apostando em alimentos integrais. A soja é outra coisa que ela consome quase todo dia, além de verduras, legumes e frutas. “Não tomo refrigerante há mais de dois anos e meio. Aqueles lanches rápidos não existem mais aqui em casa, e fritura também não entra”. O segredo para tanta determinação? “Eu já vi o quanto é terrível ser obesa e botei na minha cabeça que eu não podia mais me dar ao luxo de me descuidar. Eu tinha que aproveitar a chance de emagrecer – talvez a única da minha vida”.

Cardápio da dieta pós-bariátrica

Depois da redução de estômago, Sabrina fez uma dieta bastante restrita; os hábitos saudáveis ela mantém até hoje
Quer um exemplo da alimentação básica de um dia de Sabrina? De manhã, ela come frutas com granola, iogurte e queijo branco. No almoço, ingere um pouco de carboidrato e aposta em proteínas vegetais, como lentilha ou feijão, além de verduras, brócolis e couve-flor. “Também costumo fazer bastante vitamina e sucos detox”, conta. De noite, normalmente é uma salada ou algo bem levinho, como uma bolachinha de centeio. “Outra coisa que comemos muito no jantar é sopa de legumes. Sacia, tem poucas calorias e é algo que dá pra incluir no cardápio sem medo”, diz.

Exercícios

Sabrina diz ter orgulho das peles e cicatrizes:
 "Provas de que venci a obesidade"
Sabrina adotou alguns hábitos dos quais não abre mão: um deles é caminhar com seus cachorros, andar de bicicleta ou roller no parque perto de sua casa. “Tento fazer isso três vezes por semana. E todos os dias em casa eu faço abdominal”, diz. Depois da cirurgia, ela apostou no kick box e no pilates, mas teve que parar. “Pode não parecer, mas minha vida é corrida. Eu trabalho com meu blog e com publicidade. Tenho também uma empresa com meu noivo e sou voluntária da causa de animais abandonados. E tenho que cuidar da casa, que também não é fácil”.

O outro hábito é sempre se obrigar a caminhar um pouco a mais do que o habitual. “Se eu estaciono o carro, por exemplo, sempre paro em um lugar mais longe e faço tudo a pé. Em cidade pequena é mais fácil, claro. Parece que não, mas esse tipo de mudança fez diferença pra mim”, relata.

Orgulho das peles e cicatrizes

A única cirurgia que Sabrina fez depois da bariátrica foi a reconstrução do seio com implante de silicone. Sobre as peles que sobraram após o emagrecimento e as cicatrizes e estrias, ela garante não se incomodar. “Não tirei nada. Penso primeiro em ter um filho. Esses excessos de pele não me incomodam. Tenho pele sim, no braço, na barriga, meu bumbum ficou flácido. Mas, desde o primeiro momento, eu busquei me aceitar. É muito melhor estar com excesso de pele e estar viva. É sinal de que eu venci a obesidade. Eu tenho orgulho das minhas cicatrizes, são elas que mostram a minha história e me mostram o que eu passei para poder viver o que vivo hoje. Olho para elas para refletir e agradecer”.

De obesa mórbida a miss

Sabrina já ganhou 10 faixas de concursos de beleza.
"Levam em conta a simpatia também"
Marau tem uma forte tradição da colônia italiana, e um dos sonhos de criança de Sabrina era ser Rainha Italiana da cidade – concurso de beleza promovido por lá. “Eu nem acreditei quando ouvi meu nome sendo anunciado. Foi uma emoção muito grande”, conta ela, que ganhou a disputa em 2014. Depois dessa experiência, Sabrina não parou mais de receber convites para participar de outros desfiles e já soma dez faixas de vencedora de concursos de beleza, alguns de nível estadual.

Ela acredita que, além da beleza, sua atitude e simpatia foram fundamentais para as conquistas, muito comemoradas por ela e celebradas também pelos habitantes da pequena cidade gaúcha. “Nos concursos, eu acho que tinham mulheres muito mais bonitas do que eu. Mas acho que o fato de eu me aceitar e ajudar a incentivar outras pessoas faz toda a diferença. Quero que as pessoas sejam felizes do jeito que são. Todo mundo tem imperfeições, mas é uma escolha viver por esses pequenos erros, ou amá-los, aceitando que eles são parte de você. Se você prestar atenção só nos detalhes errados, não vai ver as qualidades e o que você tem de bonito”.

A gaúcha engordou 80 kg em cinco anos, e depois perdeu todo o peso em apenas dois.
"Era minha única chance de emagrecer"