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domingo, 9 de agosto de 2020

Professor cria história do super-herói carioca e morador de favela: conheça o Chama Negra


O cotidiano numa favela carioca não é fácil. A realidade, muitas vezes de violência e adversidade, já serviu de cenário para novelas e filmes nacionais e internacionais. Mas, longe da ficção, moradores precisam se transformar em verdadeiros super-heróis para seguir em frente. Foi pensando no dia a dia deles que o professor Julio Cesar Paladino, de 30 anos, decidiu criar a história do Chama Negra, que mescla ficção científica e aventura em meio ao dia a dia das comunidades do Rio. Segundo o autor, que mora próximo a uma das entradas do Morro do Juramento, na Zona Norte da cidade, a ideia veio da fascinação pelo universo nerd e, principalmente, da proximidade com a realidade da favela, que é retratada no livro “O Chama Negra: Origem”.

— Há dez anos a ideia surgiu, mas faltava colocá-la em prática. Sempre gostei de quadrinhos e séries de ficção, como “O Senhor dos Anéis” e “Star Wars”. Com o tempo, comecei a perceber que todos os heróis eram estrangeiros, não tinha um brasileiro, um herói que se parecesse comigo ou com qualquer outro cidadão daqui. A inspiração para o Chama Negra foi o lugar onde sempre morei, perto da comunidade, onde eu ouvia os meus amigos contarem sobre a luta contra a violência policial e a opressão dos criminosos — diz.

Na história, Francisco é um rapaz negro e pobre que mora numa comunidade do Rio. Com muita batalha, ele tenta transformar sua vida por meio da educação e conta com a ajuda de dois grandes amigos: Bruna, por quem o garoto é secretamente apaixonado, e Gabriel. A vida do trio caminha na mesma direção, até que Francisco é expulso da região por um traficante. É nesse momento que o rapaz conhece um cientista e, numa série de acontecimentos, ganha superpoderes. A partir daí, precisa aprender a lidar com sua nova identidade e resolver os contratempos que surgem.

De acordo com Paladino, todas as histórias foram inspiradas em relatos contados pelos parentes e amigos ou vivenciados por ele.

— Nenhuma das aventuras saiu da minha imaginação. Sempre ouvi, por exemplo, que determinado bandido mandou fechar o comércio. Ou que a polícia chegou e fez tal coisa. Num trecho da história, um personagem conta que os traficantes alugaram o blindado da PM para invadir o morro rival. E a gente sabe que isso acontece, já foi notícia.

Paixão pela literatura que vem de berço
A leitura sempre faz parte da vida de Julio. O pai, professor de História, foi um dos incentivadores. Da mesma forma, a mãe sempre comprou gibis da “Turma da Mônica” e do “Sítio do Picapau Amarelo” para ele quando criança. Agora que se tornou pai, Julio quer passar a paixão pela literatura para o filho, Francisco — o mesmo nome do herói Chama Negra —, de 1 ano. A criança, segundo o escritor, já é um fã dos livros mesmo sem saber ler:

— Eu e a minha mulher, Mariana, ja compramos vários livros para o nosso pequeno Francisco, assinamos até um clube de leitura.

“O Chama Negra: Origem” está disponível apenas como e-book por enquanto, à venda na Amazon por R$ 9,99, com 65 páginas e classificação etária de 12 anos. Cerca de 30 livros já foram comercializados pela internet. A obra física, que deve chegar a cerca de 75 páginas, é agora o sonho de Julio, que busca um patrocínio e uma editora interessada em publicá-la:

— Publiquei meu livro de forma independente. Busquei algumas editoras, que me cobraram muito caro, um valor incompatível com meu salário de professor. Mas eu entendo que é difícil apostar em alguém desconhecido. Os adolescentes são meu público-alvo. Mas sei que muitos adultos também vão curtir a história.

Continuação da história vem ainda em 2020
Julio conta que o retorno dos leitores tem sido melhor do que o esperado: pelas redes sociais, muitos já pedem a sequência da história do Chama Negra.

— Todos que leram o livro estão ansiosos pela continuação. Fiz um perfil no Instagram (@ochamanegra) para que as pessoas conheçam mais o herói. A continuação sai ainda neste ano, se tudo der certo eu lanço a segunda parte entre novembro e dezembro. Falta só editar.

Rene Silva, idealizador do Voz das Comunidades e eleito um dos negros mais influentes do mundo em 2018, está curioso para ler o livro. Segundo ele, as comunidades cariocas estão repletas de jovens que sonham mudar de vida e esperam apenas uma chance para isso. Para Rene, querer ser jogador de futebol ou cientista , por exemplo, reflete a vontade de crescer e superar tantas dificuldades. E o que mais importa, segundo o jovem, é a mão estendida:

— A história é fantástica. Muitos jovens de favelas precisam apenas de uma oportunidade simples para mudar o futuro. Só vamos descobrir a realidade do Brasil quando olharmos com respeito para a favela. Quantos jovens, assim como Francisco, não sonham mudar de vida?