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sábado, 15 de agosto de 2020

JACINTHO CAETANO, O VISIONÁRIO DE MARICÁ (15 de agosto de 2020 - 120 anos)


Esta obra nasceu da necessidade de partilhar com as novas gerações da nossa querida Maricá, a vida de um homem que, com seu esforço e trabalho, construiu e alavancou o progresso tanto de seus familiares quanto de sua cidade, com muita alegria, muito amor e, acima de tudo, muita dignidade.
...
Sou profundamente grata a todos aqueles que, com os seus depoimentos e informações preciosas rechearam, enriqueceram e embelezaram está história da vida de meu pai, particularmente à minha família, que segue comigo o caminho do autor, seja qual for a minha estrada.

Maria do Amparo Caetano.

A HISTÓRIA
Nascido em 15 de agosto de 1900, dia muito especial para Maricá pela festa da padroeira “Nossa Senhora do Amparo.

Às 11 horas, enquanto na Matriz era celebrada a missa solene em uma casinha simples, no Caju, nascia Jacintho Luiz Caetano, 6º filho, sétima gestação do casal Caetano Gonçalves e Amélia Leopoldina do Amparo.

Caetano Gonçalves nasceu em Mataruna, município de Araruama mas ainda bem jovem chegou a Maricá.

Fixou residência no Caju (1º distrito de Maricá), onde dedicou-se ao trabalho na lavoura.
Conheceu D. Amélia no Caju, uma linda jovem morena de estatura pequena. O casal teve 11 filhos, sendo 4 homens (dentre eles Jacintho Caetano) e 7 mulheres.

Jacintho pouco sabia ler e escrever, mas ninguém o enganava: fazia cálculos como ninguém, entendia de construções e do material para as mesmas. O homem não parava.
Estava sempre à frente do trabalho e dava conta de tudo. Saia cedo para o Rio e voltava à noitinha, sempre à negócio.

Não com o conforto de agora – ponte ônibus, boas estradas – nada disso. Foi assim que foi progredindo na vida!

Jacintho cresceu vendo seu pai dedicando-se a lavoura e sua mãe, grande doceira, contribua nas despesas da casa vendendo seus deliciosos doces.

Aos 8 anos, Jacintho, muito esperto e ágil, levava para vender esses doces na praia de Jacaroá, sempre aglomerada de pessoas vindas de municípios vizinhos para comprar peixes e camarões na época ainda muito fartos na Lagoa de Maricá. Eram a grande riqueza do município.

O lucro na venda dos doces, Jacintho colocava em canudinhos de bambu e enterrava nas areias da lagoa de Jacaroá. “As areias de Maricá foram o primeiro cofre de Jacintho”.

Com 11 anos usou suas economias para comprar uma leitoa. Foi seu primeiro investimento. Sabia que daria cria e seus filhotes seriam seus primeiros e “grandes lucros”.

Aos 12 anos comprou um cavalo, fruto da venda dos leitões, e com este cavalo, pode iniciar seus negócios.

Passou a comprar e a vender o pescado, aventurando-se cada vez mais a locais distantes.
Nessa época, um amigo de seus pais fazia viagens para vender peixes em Niterói.

Com 13 anos, juntou-se ao “Seu Cinto Crioulo” ou “Cinto Sanfoneiro”, assim conhecido por ser o animador das festas do local.

Assim iniciou suas viagens mais longas e, aos 17 anos já possuía uma tropa de animais que levava o pescado e outras mercadorias, como carvão e esteiras de taboa (vegetação comum nas margens da lagoa e lugares bem úmidos) e trazia, na volta o que Maricá necessitava.

Pioneiro e desbravador, ao transportar bens de consumo essenciais, nos lombos dos burros, utilizando vias de difícil acesso, Jacintho demonstrava toda a sua obstinação pelo progresso econômico e social da região.

Jacintho organizou um sistema de transporte de cargas, em lombos de burros que se expandiu na medida das suas necessidade, distribuindo mercadorias entre Maricá, São Gonçalo, Itaboraí e Niterói, passando a  promover ainda muito jovem, o intercâmbio comercial entre esses municípios.

Aos 18 anos, em 1918, criou sua primeira empresa registrada, o ARMAZÉM ESPÍRITO SANTO. Essa pequena “venda” (assim eram chamados os armazéns da época) foi fundada por Jacintho e seu tio avô Horácio Batista.

Pouco durou a sociedade, e para não ficar sozinho, convidou o menino João para ser seu ajudante no armazém. O Armazém Espírito Santo foi, durante grande parte de vida, o seu “quartel general”. Era seu “Espaço Mágico”. Lugar onde fazia grande negócios comerciais. Conseguia reunir a cúpula dirigente e ao amigos maricaenses para os debates em torno do progresso do município.

Desta maneira, Jacintho seguia ampliando o seu comércio: o Armazém, as vendas de peixes e camarões, o mercado ambulante de carvão, esteiras, etc...

Com suas economias costumava comprar pequenas áreas de terras que iam se somando.
Montou armazéns no Cajú, Flamengo, Jacaroá, Inoã, São José do Imbassaí, Ponta Negra e Espraiado, ampliando, assim os seus negócios.

Com o crescimento do comércio, a Estrada de Ferro Maricá passou a trazer as mercadorias de Niterói, que ficavam depositadas na estação e de lá eram retiradas nas carroças e levadas para o depósitos do Armazém, de onde eram distribuídas.

Aos primeiro clarões do dia, Jacintho já estava pronto para seguir com a tropa, para Niterói ou Itaboraí. No armazém se praticava em muitas ocasiões o escambo: trocava-se ovos de galinha caipira por arroz, açúcar e outros víveres.

No dia 08 de novembro de 1923, foi celebrado o casamento de Jacintho e Eurídice, em Itaboraí. Numa charrete seguiam os noivos. O jovem casal foi morar nos fundos do Armazém Espírito Santo. Não havia água encanada nem luz elétrica. Era o lampião e a lamparina a querosene que iluminavam a casa. O piso dos cômodos era de barro batido.

A presença de Euridice renovou o animo de Jacintho. Ela o ajudava a preparar em enormes panelas o almoço dos inúmeros tropeiros que trabalhavam para Jacintho.

Logo nasceu a primeira filha, Maria do Espírito Santo e depois Ilza. Nasceram nos fundos da “venda” e os bercinhos eram feitos de bambu trançado. Jacintho com o tempo construiu uma casa com mais conforto, mais cômodos e num local mais sadio. Nessa casa nasceram Maria Nazareth, Maria José, Pedro e Maria do Carmo. Era uma casa cercada de um imenso campo verde onde haviam criações de gado,  porcos, galinha, mudas, burros e cavalos.

Em 1939, construiu, na mesma área em local próximo à rua, em frente do Armazém, uma casa, com vários quartos, salas, varandas, uma enorme cozinha com fogão a lenha.
Nessa casa nasceu Maria do Amparo, José Francisco, Jacintho Filho, Maria Bernadete, Luiz Fernando e Luiz Ronaldo.

Maricá ainda não tinha luz elétrica, não tinha água encanada e muito menos saneamento básico, mas sempre teve uma natureza exuberante.

Fazendo o comércio entre Maricá e Niterói que conheceu grande e importantes comerciantes (Lima e Irmãos, proprietários do Bazar Brasil , Grillo Paz, maior firma atacadista do Estado do Rio na época e João Evangelista, atacadista de cereais dentre tantos outros de grande importância).

Em 1928 influenciado pelo amigo Antônio Paz, comprou seu primeiro caminhão, um Ford Bigode. Nos fundos do Armazém Espírito Santo, mandou construir uma garagem e uma oficina. Sr Virgílio fazia a manutenção dos caminhões cuja frota aumentou em curto espaço de tempo.

Após o Ford Bigode, chegaram os caminhões Willis tipo C30 e os D30, KB 5, K6 e o K7.
Com essa frota, Jacintho tornou-se o maior atacadista da região.

Nessa época, comprou do Sr. José Gualberto, uma bomba de gasolina manual e assumiu a representação da Texaco em Maricá. Essa bomba, durante anos, funcionou em frente à loja de ferragens, que era, também, de sua propriedade.

Nesta época, comprava álcool, açúcar e cachaça da Usina Santa Luiza em Sampaio Correa. Todos os dias enchiam caminhões de bananas, esteiras, camarões, peixes e outros víveres e seguiam para Niterói e Rio de Janeiro. Antes da partida, Jacintho servia um café da madrugada, fazendo questão de, ele próprio, encher a caneca de cada um.

Nesse tempo, a tropa de animais limitaram-se às entregas nos lugares de difícil acesso.
Eram elas que traziam as cargas de bananas da Serra do Cantagalo no Flamengo, também de sua propriedade.

Em 1937 Jacintho leva o nome de Maricá ao exterior. Passou a exportar laranja para a Argentina e também para a Inglaterra. As laranjas compradas de terceiros, eram depositadas em um pavilhão em Maricá e beneficiadas em Alcântara.

Sua safra, cerca de 5 mil caixas, era embarcada para o exterior, sendo que cada fruta era embalada com papel azul, levando as iniciais J.L.C. Essa atividade além de trazer divisas para o Brasil, incentivava novos produtores da região a melhorar a qualidade do produto, aumentando os empregos e a renda da região.

Em 1939 começa a Segunda Guerra Mundial e com ela o racionamento de tudo, principalmente combustível. A exportação de laranja termina em 1940.

Jacintho tenta resolver o problema do combustível viajando até Campos dos Goitacazes, com caminhões com galões de 200 litros que os traz cheios de álcool, comprados nas usinas de lá.

Em Maricá, misturava com a gasolina racionada e junto com o Sr. Virgílio, seu mecânico de confiança, adaptava os motores dos caminhões, que passavam a funcionar normalmente.

Para não deixar seus funcionários sem serviço, contratava empreitadas para limpeza de canais, roçada das estradas, abertura da barra, etc... Foi sempre um grande progressista.

Jacintho passa a vender lenha para a Companhia Vidreira do Brasil. Nessa época, nasceu o conhecimento e a grande amizade de Jacintho com o Sr. Lúcio Thomé Feteira, diretor presidente da COVIBRA.

Por intermédio de Jacintho, Feteira compra uma extensa área em Maricá. Uma dessas áreas, no Bananal forneciam lenha para a queima dos fornos da COVIBRA.

Na praça Macedo Soares onde havia o Hotel Espírito Santo, foram construídas muitas casas comerciais e residenciais. Também montou 15 ou 16 armazéns para as pessoas que precisam iniciar seus negócios e, fornecendo seus produtos para esses armazéns. Jacintho NUNCA cobrou um “tostão” de juros. 

Jacintho também construiu o prédio onde funcionou o primeiro cinema de Maricá, onde hoje está localizada a loja Objetiva na Rua Ribeiro de Almeida, próximo ao Banco do Brasil. Construiu também as casas entre o Hospital Conde Modesto Leal e o Posto de Saúde Dr. Hildefonso Ferreira (Posto de Saúde Central) e inúmeras outras. O dia de Jacintho e seus funcionários era longo e com muitas horas.

AS PROPRIEDADES AGRÍCOLAS E OS LOTEAMENTOS

Nas propriedades agrícolas, onde geralmente, havia engenhos de farinha, cultivavam-se, além da alimentação básica das famílias dos meeiros, a laranja, o limão, a banana e a mandioca.

Quando necessário, Jacintho fornecia gêneros alimentícios, até que a propriedade se tornasse auto-suficiente. Comprou várias área em torno da Lagoa até assumir uma respeitável área ao longo da Lagoa de Jacaroá até o Caju.

Visando promover o saneamento da cidade de Maricá, com o intuito de reduzir epidemias existentes, o governo desenvolveu um projeto para a lagoa, que consistia na construção de diversos canais, ao seu redor, os quais iriam eliminar, totalmente, aquelas inundações.

O projeto foi implementado com sucesso e, com isso, aquelas terrenos anteriormente desvalorizados pelas inundações, passaram por um processo de valorização expressiva.
O passo seguinte foi transformar aquela área num grande loteamento, o Balneário Lagomar.

Muitos outros foram surgindo: Parque Flamengo, Parque São José, Balneário Vistamar, Jardim Miramar, Bairro Boa Vista, Jardim Íris, São José do Imbassaí, Vila São José do Imbassaí, Áreas de Terras São José do Imbassaí, Fazenda do Caju, Áreas de Terra do Caju, Áreas de Terras do Espraiado, Posse e centro da Cidade. O primeiro grande loteamento foi o Lagomar, depois veio o Vistamar.

Sempre rejeitou a ideia de investimentos além das fronteiras de Maricá. Do ponto de vista macroeconômico, na realidade, ao promover sangria de recursos de sua região para uma outra, estaria reduzindo o volume de moeda em circulação e, por conseguinte, o estabelecimento da possibilidade de novos negócios e crescimento dos já existentes.

OS HÁBITOS 

Jacintho sempre tirava um cochilo depois do almoço, sentado na cadeira simples, colocada no canto do Armazém. Todos respeitavam essa “sesta”, mesmo os clientes ou pessoas que necessitavam falar com ele. Eram apenas 10 minutos, mas eram “sagrados”.

Uma das características de Jacintho, era realizar sempre suas operações comerciais e grandes decisões nos dias 10 de cada mês, ou nas terças feiras de cada semana.

Tinha sempre uma frase adequada para os momentos de dificuldades ou de alegrias, que embora ditas de maneira muito simples traziam grandes ensinamentos práticos e demonstravam muita sabedoria. 

SUA ALEGRIA ERA VER MARICÁ CRESCER

“Dizia em tom ingênuo, entre sorrisos:
- Meu prazer é ver Maricá crescer” ...

Foi inspirado na Fé, a maior riqueza que o homem possui na terra, que Jacintho Caetano, procurou semear a caridade e o amor ao próximo doando terrenos, quando estavam em jogo a saúde e o ensino ...

... Estamos na obrigação de mostrar à geração presente e à futura, o que pode realizar Um Homem de Fé”.

Arquivo da Academia de Ciências e Letras de Maricá, Sr. Osvaldo Lima Rodrigues.

Jacintho não media esforços para doar o que fosse necessário. Ajudou e presenteou amigos, empregados, necessitados, entidades assistenciais e, até, a entidade pública, com suas doações de terrenos, material de construção, transportes, casas, caixões, etc ...

“No Hotel Espírito Santo, foi oferecido um laudo jantar aos desembargadores e convidados, pelo Senhor Jacintho Luiz Caetano, proprietário desse bem montado estabelecimento.

... A iluminação das principais artérias da cidade foi feta pelo Sr. Jacintho Luiz Caetano, proprietário conceituado que é pródigo em gentilezas em se tratando de qualquer assunto atinente a melhoras ou para relevo do nobre torrão maricaense”.
- Nota do jornal “A Defensiva”, em 06 de julho de 1939, marcando os festejos em Maricá 

A praça principal de Maricá, na época, hoje praça Conselheiro Macedo Soares, era toda iluminada por lampiões a querosene. O Sr. João Nogueira, receber o apelido de “lampista”, porque era ele, que usando uma escada pequena para subir nos postes, abastecia e acendia esses lampiões. No ato de acender usava o “acendeiro”, vara com um cartucho e um líquido inflamável. Apagava através de abafamento e pela manhã limpava os lampiões, cheios de mosquitos atraídos pela luz .

Em 1937, Jacintho comprou e doou um gerador a óleo diesel de origem alemã – Lentz – e instalou numa casa onde é hoje o Mercado das Artes (antigo Mercado de Peixes), próximo a Casa de Cultura. A iluminação era fraca. O motor era ligado às 18 horas e às 22 horas dava o sinal de que às 22:30 h seria desligado.

O encarregado de ligar o motor era o Sr. Celestino Gomes, que foi apelidado de “Seu Fio”, porque fazia a ligação dos fios.

Em 28 de janeiro de 1958, chegou à Maricá a iluminação elétrica, obras estadual do então governador Ernani do Amaral Peixoto. Por quase vinte anos, Maricá só teve a luz gerada pelo gerador de Jacintho Caetano.

PREOCUPANDO-SE COM A SAÚDE DE MARICÁ

A falta de saneamento básico levou Maricá a uma epidemia grave de febre Malária.

Jacintho arregimentava homens, para a limpeza das valas e também fazer roçadas na beira das ruas. Esse serviço era braçal feito com enxadas, foices e “músculos”. Até que, na década de 50, o Ministério da Saúde, através do DNOS – Departamento Nacional de Obras e Saneamento, conseguiu erradicar a Malária.

Ajudando aos pescadores, abria, com seus funcionários, o canal da Barra, ligando a Lagoa ao mar, para escoar e renovar as águas das Lagoas. Isso acontecia em um determinado período do ano quando o nível da lagoa era muito elevado.

No início essas escavações eram feitas com enxadas, mais tarde passou a usar um trator, que comprou para seus serviços de terraplanagem. Poucos meses depois de todo esse trabalho, como retribuição, a Lagoa oferecia uma grande quantidade de peixes e camarões enriquecendo, assim, nossa região.

Para o posto de Puericultura de Maricá, doou os lotes 01 e 02 da quadra D do loteamento Jardim Balneário Vistamar e ajudou a construir o Posto de Saúde Dr. Hildefonso Gonçalves Ferreira.

Também doou ao Estado do Rio de Janeiro as terras para a Posto de Saúde de São José do Imbassaí. Seus caminhões ajudaram no transporte de material para a construção desta obra.

“Meu pai teve sempre viva e presente na sua vida, a figura de Maria Santíssima, por isso foi um homem invencível, cheio de amor e com muita caridade. Lembro-me bem dos caixões das pessoas pobres, feitos em sua garagem, dos doentes que ele transportava em balsa (duas canoas amarradas uma na outra e uma tábua no meio das duas).

A ambulância era o seu caminhão.
Vi e ouvi do meu tão amigo e querido pai, que antes, até mesmo de nós, estão os mais necessitados. Transportava doentes mentais de Maricá para Niterói sem que houvesse qualquer transtorno por parte dos doentes...”
- Depoimento da irmã de Jacintho, Maria do Espírito Santo 

UM HOMEM VOLTADO TAMBÉM PARA A EDUCAÇÃO

Na década de 30, meu pai construiu uma escola no Caju (1º distrito), onde duas professoras vinham de Niterói para lecionar: D. Leonor e D. Astrogilda. Elas ficavam hospedadas na casa da irmã de Jacintho, D. Sebastiana de 2ª a 6ª feira.

Jacintho preocupava-se muito com qualidade do ensino profissionalizante, por isso, doou terreno para a construção da Fundação Anchieta, hoje Fundação Leão XIII, inaugurada em 12 de junho de l953, localizada ao lado do Hospital Conde Modesto Leal. A fundação tinha como objetivo capacitar os jovens para o mundo do trabalho. Seria um embrião das escolas técnicas de hoje.

Criou também em parceria com o professor Dr. Oswaldo de Lima Rodrigues, a Escola Técnica de Comércio São Caetano. Recuperou uma casa em ruínas, que ficava no alto do morro e possuía, na entrada, 2 colunas e, em cada uma delas uma grande e bonita águia. O portão de ferro era negro e dourado. Existia uma escadaria na entrada, onde é hoje parte do Itaú ao lado da loja Novolare (antiga Agência Fiscal do Estado). Essa casa foi toda preparada passando a ser a primeira sede do colégio São Caetano.

Em 1951, o agente municipal de estatística, Sr. Azamor José da Silva, em parceria com o Pastor Clerio Boechat, iniciaram o planejamento de um colégio da Campanha de Educandários Gratuítos em Maricá – CNEG.

Jacintho apoiou o projeto junto a outros representantes de várias áreas do município e doou para este colégio, todo o material de físico-química e história natural. Jacintho foi o primeiro presidente do colégio Cenecista Maricá, eleito pelo Diretório dessa escola. Hoje o CNEC, é um colégio da prefeitura de Maricá.

No bairro do Flamengo, a área de terra e a construção do primeiro prédio do Colégio Estadual Domício da Gama, também foi doação de Jacintho. 

Certa vez, visitando a unidade escolar, conversando com nossa querida D. Zilca – outra figura histórica de Maricá – diretora do colégio (local onde iniciou sua longa e vitoriosa carreira de ensino), Jacintho olhou para o prédio e disse à D. Zilca: - Minha filha, este prédio está muito pequeno para esse número de alunos, prometo construir outro maior e mais confortável, o que você bem merece. E assim o fez meses depois.

Anualmente, na Semana da Criança, Jacintho oferecia um ou mais ônibus para D. Zilca e suas auxiliares levassem os alunos a passeios alusivos a Semana.

No atual bairro Amizade, doou área para a construção da Escola Municipal Marcus Vinícius Caetano Santana, em memória do seu querido neto, que nos deixou prematuramente.

UM HOMEM RELIGIOSO

Inspirado em sua fé, as obras dos telhados de todas as capelas ficavam sob os cuidados de Jacintho, que dizia a todos:  - Esse trabalho está reservado para mim.
A capela de Nossa Senhora da Saúde em Ubatiba, recebia de Jacintho, uma atenção especial. Por ser uma capela muito antiga, Jacintho tinha o cuidado de deixá-la sempre em perfeito estado.

Já a Matriz de Nossa Senhora do Amparo, durante os anos de 1948 a 1952, passou por grande reforma. Além dos transporte gratuito com seus caminhões, Jacintho ajudou, doando grande quantidade de material; deu total apoio ao dedicado Cônego Joaquim Antônio Carvalho Batalha, o qual transportava todos os domingo à tarde, em sua caminhonete para celebrar missas nas capelas.

Foi Jacintho que doou o terreno onde foi construída a Sede da Congregação Convento das Irmãs do Bom Conselho.

Comemorar e participar das tradicionais festas de Maricá fazia parte da vida de Jacintho.

Sempre em 15 de agosto, o movimento começava de madrugada na casa de Jacintho, em função da festa da padroeira e do seu aniversário, ambos na mesma data. Às 5 horas da manhã, uma salva de vinte e um tiros já avisava a população do centro e arredores, que havia raiado o “grande dia”. O povo esperava ansioso a chegada da Banda.

Aos primeiro acordes, todos, incluindo autoridades, empresários, festeiros e a população em geral, iniciavam o animado passeio pelas ruas de nossa cidade. O cortejo seguia em direção à casa de Jacintho.

Todos paravam em frente a casa de Jacintho e a Banda posicionada tocava o “Parabéns à você!”. Jacintho agradecia reverenciando as pessoas que ali estavam presentes no festejo da padroeira e no seu aniversário. Jacintho agradecia em frente da imagem de Nossa Senhora do Amparo: - Obrigado Minha Mãe, Obrigado Minha Madrinha!

Após o café onde todos que acompanhavam a Banda (autoridades e povo) usufruíam, iam diretamente para a matriz, onde era celebrada a primeira Missa do Dia. Era a missa em Ação de Graças pelo aniversário de Jacintho. Às 11 horas, a missa solene era celebrada pelo Sr. Arcebispo de Niterói.

Ainda é o maior encontro social e religioso de Maricá. Jacintho se preparava com antecedência e todo ano comprava terno, camisa, meias sapatos, tudo novo em Niterói. Nesse dia tudo tinha que ser novo. Após a missa solene, sempre convidava o Arcebispo, o padre e as autoridades para um almoço em sua casa.

Às 20 horas, a procissão percorre as principais ruas da cidade, levando no andor, a linda imagem de Nossa Senhora do Amparo, finamente ornamentada. Essa tradição se perpetua até os dias de hoje, embora especialmente neste ano de pandemia da Covid 19, a procissão virou uma carreata percorrendo as ruas da cidade, com poucas pessoas acompanhando o cortejo devido as restrições impostas pela pandemia.
Nos seus últimos anos de vida, mesmo adoentado, Jacintho esperava a procissão passar, sentado, dentro de sua caminhonete.

26 DE MAIO – ANIVERSÁRIO DE MARICÁ

No dia 26 de maio, Maricá era uma festa só. As famílias se reuniam para assistir o desfile cívico. Jacintho no alto do palanque a tudo assistia, numa atitude de civismo, junto às autoridades: governador, deputados, prefeito, ...

Seus ônibus iam buscar crianças e os professores para o desfile cívico. Sentia-se muito orgulhoso, ao ver jovens e crianças maricaenses desfilando e Maricá sendo representada na área agrícola, na pecuária, através da imponência dos cavalos e seus cavaleiros e dos carros e maquinários da Prefeitura. O desfile sempre terminava com parte da frota da Viação Nossa Senhora do Amparo fechando o desfile.

No céu, os aviões do aeroporto municipal, faziam evoluções chamando a atenção do povo.

CARNAVAL

Jacintho também prestigiava o Carnaval de Maricá, patrocinando os animados “Bloco Tira Teima”, que desfilava com lindos cavalos, com celas bem decoradas em amarelo e branco e o “Bloco do Jacaré”, com bonitos carros alegóricos enfeitados de verde e branco. 

14 DE AGOSTO – FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

Era uma festa realizada de maneira religiosa e folclórica. Jacintho era um devotos do Divino e gostava muito de participar dos festejos. Alguns dias antes, um grupo de senhores e senhoras visitavam as casas em busca de donativos.

No dia 14 de agosto, um menino vestido de Imperador, com manto de veludo vermelho e franjas douradas, ladeado por duas meninas vestidas de anjo, levava uma coroa e um cetro de prata até a Igreja. O Imperador e os anjos assistiam à missa, sentados em um trono, também de veludo vermelho e franjas douradas.

Ao término da missa, através de um sorteio, escolhia-se quem seria o próximo festeiro. O Imperador e os anjos, acompanhados por uma procissão, levavam a coroa e o cetro para serem guardados na casa do festeiro sorteado, até a próxima festa. Todo esse movimento era acompanhado por fogos e Banda de música.

A festa terminava com distribuição de pães e carnes para os mais carentes. Essa distribuição era feita no coreto em frente à Igreja. Em 1950, a festa deixou de ser realizada em nossa cidade.

No dia 23 de novembro de 1973, o Arcebispo D. Antônio Almeida de Morais Jr. veio à Maricá para celebrar a missa de Bodas de Ouro de Jacintho e Eurídice. A matriz de Nossa Senhora do Amparo estava ricamente ornamentada e Os Canarinhos de Petrópolis cantaram na cerimônia que contou com a presença do Governador do Estado e outras ilustres autoridades.

VIAÇÃO NOSSA SENHORA DO AMPARO

No final do século XIX, os únicos meios de transporte em Maricá eram as carroças ou os próprios lombos dos animais.

Em 1928 Jacintho adquire seu primeiro caminhão.

Em 1950 compra seus primeiros ônibus, que chegam à Maricá trazendo em suas laterias as inscrições: VIAÇÃO NOSSA SENHORA DO AMPARO. Era 10 de maio! ... Jacintho dá início então a uma nova atividade, o transporte coletivo.

A situação do transporte em Maricá era precária. 

Aos 50 anos de vida, já possuía uma história vitoriosa com muitos desafios vencidos. Foram comprados dois ônibus e 4 foram encomendados., esperando o decreto que concederia a permissão para a Viação Nossa Senhora do Amparo iniciar o tráfego entre Maricá e Niterói.

Havia em Maricá a empresa Auto Comercial que fazia a linha até Niterói que posteriormente foi vendida a Auto Viação 1001, que passou então a fazer a linha Niterói-Maricá-Araruama.

Durante os dois primeiro anos as pressões sofridas foram muitas e muito fortes para poder criar a sua empresa de ônibus e dar a independência de transporte à Maricá.

As visitas AO Palácio do Governo eram constantes e sua firmeza e idealismo despertaram, no então governador, Comandante Ernani do Amaral Peixoto, simpatia e respeito. Uma grande amizade começava ali. A primeira linha era: LAGOMAR – MARICÁ – NITERÓI
Jacintho sempre dizia: - A empresa é de Maricá, para trazer melhorias para Maricá.

No final de 1951, Jacintho que estava ligado a política pela UDN (União Democrática Nacional) deixa a Câmara dos Vereadores, da qual fazia parte e se filia ao PSD – Partido Social Democrático.

“Nessa ocasião, vindo da UDN, ingressou no PSD, o Sr. Jacintho Luiz Caetano, tornando-o imbatível nas urnas. O novo filiado, um abnegado pelo progresso de Maricá, após a promessa do Governador feita ao meu saudoso pai – Benvindo Taques Horta e aos membros do diretório desse partido, que seria concedida a permissão para o funcionamento da então Viação Nossa Senhora do Amparo na linha Niterói – Maricá – Lagomar. Foi o início vitorioso no setor de transporte coletivo do município, impulsionado pelo Sr, Jacintho.

Daí para frente, a empresa que começou pequena, mas com o trabalho diuturno de seu fundador, tornou-se a grande empresa dos dias de hoje e orgulho dos maricaenses...”
- Depoimento de Benvindo Taques Horta Júnior, pai do prefeito de Maricá, Fabiano Taques Horta (PT) 

Assim, contando com a admiração do governador, Jacintho recebe no dia 30 de abril de 1952, na Procuradoria Judicial do Departamento de Estradas e Rodagem – DER – o despacho do Excelentíssimo Senhor Governador, concedendo a autorização para funcionamento de veículos destinados ao transporte coletivo nas estradas estaduais e intermunicipais.

Os primeiros dias do mês de maio foram de preparativos para iniciar o tráfego entre Lagomar – Maricá e Niterói. Em 10 de maio de 1952, às 7 horas da manhã, tendo como motorista O Sr. José Pereira, o Pernambuco, e o cobrador, o jovem Altair Martins da Silva, sai o primeiro ônibus, depois de ter recebido à benção e orações, feitas pelo Cônego Joaquim Batalha. Às 10 horas, foi celebrada uma missa de Ação de Graças e a benção de mais um ônibus que seguiu para Niterói, fazendo o horário de 11 horas. Na saída dos primeiros horários, fogos e orações não faltaram.

Na autorização do DER, constava a saída dos ônibus de Lagomar (Jacaroá) e a passagem pela estrada velha de Maricá (São José do Imbassaí) com dois horários saindo de Maricá às 7 h e 11 h, voltando de Niterói às 18 h e às 20 horas.

Poucos meses ficaram esses horários. Jacintho possuía 6 ônibus e logo conseguiu trafegar de duas em duas horas, saindo o primeiro de Maricá às 5 horas e o primeiro de Niterói às 7 horas.

Por alguns anos, os ônibus novos que chegavam, antes de entrar na linha, eram levados à frente da Matriz para receberem as “bênçãos de Nossa Senhora”.

Todo dia 10 de maio às 10 horas da manhã é celebrada a missa de Ação de Graças e muitos fogos comemoravam o aniversário da empresa.

Foi assim até o final da vida de Jacintho, o visionário de Maricá.

Redação, jornalista Pery Salgado, baseado em obra de Maria do Amparo Caetano.