Eu comecei a ser abusada sexualmente quando tinha 12 anos, e durou até os 15 anos. Aos 19 fui abusada mais uma vez.
O meu abusador, não usava o órgão genital dele para me estuprar. Ele usava as mãos, gestos, palavras...
Não é “como” foi feito, é sobre poder.
É sobre acreditar que você pode abusar de uma mulher, de uma garotinha, é sobre crescer sendo educado em uma cultura que aceita isso.
Aos 19, depois de ser abusada sexualmente MAIS UMA VEZ, denunciei... com medo e receio, porque eu temia que as pessoas não fossem acreditar em mim.
E o mais difícil em ter sido abusada sexualmente e psicologicamente, é que eu acreditei por muito tempo, que a culpa era minha. Que essa vergonha deveria ser minha, que quem deveria ficar quieta, deveria ser eu.
Por muito tempo eu achei constrangedor falar sobre ter sido abusada. Por muito tempo tive medo.
A Pedofilia nos mata um pouquinho, em diversos níveis. Mas eu sou uma sobrevivente, eu e milhões de meninas espalhadas pelo mundo. Tivemos nossa inocência roubada, nossa vida marcada.
As pessoas dizem “Você não seria a pessoa que é hoje, se não tivesse passado pelo o que passou”. Como se fosse muito bom sofrer.
Eu não sou o que sou pelo o que passei. Eu sou o que sou APESAR do que passei. Talvez eu fosse uma pessoa muito melhor se não tivesse passado.
É necessário discutir a Pedofilia como saúde pública, como um problema estrutural, e com PROFUNDIDADE!
Ninguém solta a mão de ninguém.
Estamos juntas.
LUTE COMO UMA GAROTA!
Depoimento de Anna Rosa Furtado |