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terça-feira, 18 de agosto de 2020

LUTE COMO UMA GAROTA por Anna Rosa Furtado


Eu comecei a ser abusada sexualmente quando tinha 12 anos, e durou até os 15 anos. Aos 19 fui abusada mais uma vez.


O meu abusador, não usava o órgão genital dele para me estuprar. Ele usava as mãos, gestos, palavras... 



Não é “como” foi feito, é sobre poder.



É sobre acreditar que você pode abusar de uma mulher, de uma garotinha, é sobre crescer sendo educado em uma cultura que aceita isso.



Aos 19, depois de ser abusada sexualmente MAIS UMA VEZ, denunciei... com medo e receio, porque eu temia que as pessoas não fossem acreditar em mim.



E o mais difícil em ter sido abusada sexualmente e psicologicamente, é que eu acreditei por muito tempo, que a culpa era minha. Que essa vergonha deveria ser minha, que quem deveria ficar quieta, deveria ser eu.

Sofri muito, mas superei, venci e hoje meu sorriso está de volta!


Por muito tempo eu achei constrangedor falar sobre ter sido abusada. Por muito tempo tive medo.



A Pedofilia nos mata um pouquinho, em diversos níveis. Mas eu sou uma sobrevivente, eu e milhões de meninas espalhadas pelo mundo. Tivemos nossa inocência roubada, nossa vida marcada.



As pessoas dizem “Você não seria a pessoa que é hoje, se não tivesse passado pelo o que passou”. Como se fosse muito bom sofrer. 

Eu não sou o que sou pelo o que passei. Eu sou o que sou APESAR do que passei. Talvez eu fosse uma pessoa muito melhor se não tivesse passado.

É necessário discutir a Pedofilia como saúde pública, como um problema estrutural, e com PROFUNDIDADE!

Ninguém solta a mão de ninguém.
Estamos juntas.
LUTE COMO UMA GAROTA! 

Depoimento de Anna Rosa Furtado