A partir de agora, Maricá possui a Semana de Orientação e Prevenção à Gravidez na Adolescência, iniciativa criada para prevenir a gestação precoce e doenças sexualmente transmissíveis, além de incentivar o programa de planejamento familiar reprodutivo. O projeto de lei foi aprovado na Câmara Municipal e sancionado pelo prefeito Fabiano Horta.
Durante o governo Ricardo Queiroz, Maricá era referência neste tipo de atendimento e recebeu por dois anos consecutivos o prêmio Leila Diniz, dado às prefeituras que se destacavam no atendimento às futuras e novas mamães. Na época, além de todo acompanhamento de pré-natal, existia trabalhos de ginástica para as gestantes, acompanhamento médico e psiquiátrico no caso de gestações indevidas ou indesejáveis. Infelizmente, todo o belo trabalho literalmente escorreu para o ralo logo nos primeiros anos do governo de Washington Siqueira, o Quaquá. O Culturarteen era o maior veículo de midia da época na divulgação dos belíssimos trabalhos.
NOVOS TEMPOS
A Semana de Orientação e Prevenção à Gravidez na Adolescência vai integrar o calendário de eventos da cidade, durante a semana que compreende o dia 26/09, quando é comemorado o “Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na adolescência”.
Entre as atividades que poderão ser realizadas pelas secretarias de Saúde, Educação e Assistência Social em locais públicos, unidades de saúde e escolas estão seminários, palestras e ações educativas.
Moradora de Itaipuaçu, T. G. de apenas 17 anos foi pega de surpresa com a notícia de sua gravidez. Teve medo que a mãe não aceitasse seu bebê. “Minha mãe me apoiou desde o início, meu namorado não. Só que agora ele já está mais tranquilo em relação à criança, está sempre me ajudando e planejamos até casar. Mas não agora, vamos esperar as coisas melhorarem e ainda está muito cedo”, contou.
Foto meramente ilustrativa |
Com 29 semanas de gestação, a adolescente também sofreu preconceitos, mas não abandonou os estudos, nem desistiu de viver a maternidade. “Ouvi muitas críticas sobre estar grávida com essa idade. Muitos falaram que minha vida iria acabar, mas é uma emoção muito forte saber que tem uma criança se formando dentro de mim. É incrível saber que posso gerar uma vida. É uma sensação incrível“, explica T. G. que está cursando o 1º ano do ensino médio através de apostilas.
Para ela, que faz seu acompanhamento no posto de saúde próximo de sua casa, o pré-natal é muito importante. “Além de tirar todas as minhas dúvidas, eu posso saber como está sendo o desenvolvimento da minha criança”, avalia, revelando que sua filha, Alice vai nascer entre setembro e outubro.
Segundo a subsecretária de Saúde, Solange Oliveira neste momento de pandemia, os encontros envolverão grupos pequenos com orientações claras e objetivas. As unidades também estarão disponíveis para abordagens individuais.
“Contaremos ainda com o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, presente no município para elaboração de material educativo voltado para essa clientela, além de banners e post nas mídias sociais que transmitam comunicações positivas interagindo com nossa população, já que não poderemos propor atividades coletivas nas praças e pontos turísticos, como sempre fazíamos, promovendo a saúde do município”, explicou a obstetra.
Dados da Secretaria de Saúde de Maricá indicam que entre os dias 1º de janeiro e 24 de julho deste ano, 68 adolescentes grávidas foram atendidas no Hospital Municipal Conde Modesto Leal (Centro). Atualmente, 66 adolescentes realizam seu pré-natal em alguma das 24 Unidades de Saúde da Família (USF). Todas tem direito a consultas mensais com médico e enfermeiro e visita domiciliar do agente comunitário de saúde. A maioria tem 16 anos. O número, no entanto, não corresponde à 100% do território geográfico do município. Por isso, um aumento de unidades com o serviço já está em estudo.
Assistente social do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), Jefferson Corona destaca os medos e ansiedades dessa faixa etária como vulnerabilidades relacionadas a falta de maturidade em assumir a postura materna, insegurança de não saber cuidar de uma criança e receio da mudança do próprio corpo.
“Elas ainda têm dúvidas quanto a vida escolar estando grávida, continuidade dos estudos e perspectiva de vida profissional, ausência de apoio familiar ou ausência do parceiro, medo dessa nova etapa de vida com um bebê sob sua responsabilidade e medo do parto”, ressalta.
Coordenadora da Atenção Primária à Saúde, Angélica Duarte garante que existe uma linha de cuidados voltada à Saúde da Adolescente. “Nela, são apontados cuidados e olhares que os profissionais de saúde precisam se atentar nesse período de vida. Há também grupos voltados ao planejamento reprodutivo com orientações sobre métodos contraceptivos para todos os interessados e distribuição gratuita de preservativos”, esclarece.
“É importante levar em conta que nem sempre a adolescente tem uma gravidez indesejada. Muitas vezes, pelo que percebemos, ela escolhe isso. Ela quer uma emancipação, sair da realidade em que se encontra, da casa onde toma conta de sete irmãos ou sofrendo violência dos pais. Ela vê no namoro e na gravidez a possibilidade de mudança”, completou Lyz Miranda, que é uma das gestoras responsáveis pela Estratégia de Saúde da Família.