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terça-feira, 9 de junho de 2020

Modelo recebe apoio nas redes sociais após contar ter sido vítima de sequestro e estupro

Uma modelo de 19 anos tem recebido apoio na web desde que postou nas redes sociais um vídeo em que relata como um homem a sequestrou e a estuprou na última segunda-feira (1º) em Cotia, na Grande São Paulo. Kalliny Trevisan Maia ficou oito horas em poder do criminoso.

O pedreiro, de 37 anos, acusado de cometer os crimes, foi preso em flagrante pela polícia quando passava de carro na altura do km 30 da Rodovia Raposo Tavares. Em seguida, a vítima foi libertada, toda machucada.

Kalliny foi encontrada com o pescoço e mãos acorrentados, além dos pés amarrados com uma corda de nylon. Estava no banco traseiro do veículo do criminoso. Além do abuso sexual, ela contou aos policiais que teve a cabeça coberta com um pano, foi agredida e ameaçada de morte.

“Estou bem apesar de alguns hematomas. Como vocês podem ver, ele tentou me enforcar”, diz a modelo no vídeo.

Nas filmagens, ela aparece com o rosto, boca e pescoço machucados no vídeo que resolveu fazer para contar publicamente a violência que sofreu.

A gravação e os textos no Instagram e Facebook deram cara e voz a mais uma vítima de violência sexual. Repercutiram. Sensibilizaram internautas, principalmente mulheres.

“Estamos todas com você, a sua dor também é nossa”, escreveu uma garota ao lado de uma foto de Kalliny na página pessoal na internet.

Questionada pelo G1 sobre os motivos que a levaram a revelar o que sofreu, Kalliny respondeu que o principal objetivo foi o de encorajar outras vítimas de violência sexual e tentativa de assassinato a também denunciarem seus agressores.

"Sempre fui uma pessoa muito ligada a movimentos sociais e políticos, nunca imaginei que isso pudesse acontecer comigo", disse a jovem na sexta-feira (5). "Mas infelizmente aconteceu, e eu posso ajudar de alguma forma a mostrar para nossa sociedade que o feminicídio e a cultura do estupro são problemas reais".

Kalliny passou por exames no Hospital Pérola Byington após os crimes. O agressor dela, por sua vez, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Ele irá responder por sequestro, cárcere privado, lesão corporal e estupro, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP).

A reportagem não localizou a defesa do agressor para comentar o assunto. Assim como a modelo, ele não teve seu nome divulgado pela pasta da Segurança Pública. A diferença é que a vítima decidiu se expor e falar do drama que passou.
"Espero que a justiça seja feita por mim e por outras iguais a mim", afirmou Kalliny à reportagem.

'Eu estou viva'
“Eu estou muito feliz porque eu estou viva. Porque eu realmente achei que eu não ia conseguir sair dessa”, diz Kalliny no vídeo que sensibilizou inúmeras pessoas que visitaram sua página após a repercussão do caso.

Elas deixaram comentários, como os que estão abaixo e a hastag #somostodaskalliny:

“Espero profundamente que se recupere desse trauma”, comentou outra jovem. “Não posso nem imaginar o que passou, mas você não está sozinha nesse momento”.
“Quando uma mulher sofre, todas nós sofremos junto!”, se solidarizou uma internauta.
“Você foi incrível, admiro você”, postou mais uma mulher.
“Força para superar tudo isso”, comentou um rapaz.
“Admiro sua força interior”, enviou outro homem.
Kalliny falou ao G1 que também recebeu alguns recados mal educados, mas a maioria deles foi de pessoas que se identificaram com ela.

"Eu estou feliz pelas mensagens de apoio. Infelizmente acontecem casos como o meu todos os dias", afirmou a modelo. "Recebi muitas histórias parecidas como a minha, muitas outras mulheres passaram pelo mesmo problema".

'Tentou me enforcar'
Kalliny foi sequestrada por volta das 8h de segunda, quando chegava a um laboratório de produtos naturais, onde é estagiária de auxiliar de logística. Um colega do trabalho ouviu os gritos dela e acionou a polícia para procurar o veículo que fugiu com a garota.

“A minha força espiritual é tão grande que eu nem sei dizer como eu consegui sair disso”, lembra a modelo no vídeo.

Ao chegarem ao local, os policiais analisaram câmeras de segurança que gravaram o momento em que o criminoso, armado com uma faca, obriga a vítima a entrar no veículo. Eles anotaram as placas e identificaram quem era a proprietária do automóvel e onde ela morava.

“Eu estava o dia todo sem comer, o dia inteiro sem beber água”, lembra Kalliny no vídeo que fez.

Por causa do sumiço da modelo, parentes dela chegaram a divulgar na web a sua foto com telefone de contato para tentarem receber informações do seu paradeiro.

"É uma sensação de alívio", disse ao G1 Jones Maia, pai da modelo, sobre o que sentiu ao reencontrar a filha viva.
Segundo a mãe de Kalliny, a postura da filha em querer falar do assunto publicamente está ajudando outras vítimas de abusos a denunciarem seus agressores. "Esse propósito dela encoraja outras mulheres a denunciar esse tipo de coisa", falou Janaína Trevisan.

A dona do veículo usado para sequestrar a modelo disse aos policiais que emprestou o carro para o marido ir a um condomínio da cidade, onde trabalha como pedreiro.

Por causa do desaparecimento de Kalliny, o celular dela passou a receber inúmeros telefonemas de parentes e amigos, o que chamou a atenção do sequestrador.

“Porque vocês foram importantíssimos, tiveram momentos ali que eram tantas ligações para o meu celular, tantas mensagens, que o sequestrador ficou até desnorteado”, diz a modelo ainda no vídeo.

Ainda na segunda, os policiais foram até o lugar onde o sequestrador de Kalliny trabalhava. Por volta das 16h encontraram o automóvel visto nas câmeras. Em seguida, obrigaram o motorista a descer do veículo. Dentro dele estava a jovem, que foi resgatada.

'Não sou e nem vou ser a primeira'
Kalliny contou que o homem que a sequestrou, a agrediu e a violentou também tentou asfixiá-la. “Eu consegui me livrar enquanto ele me enforcava com um cordão”, lembra a modelo.

No vídeo, ela diz que ainda busca compreender toda a situação que viveu. “Nem sei o que dizer, porque realmente eu ainda estou tentando entender as coisas”.
Numa das mensagens que deixou em sua própria página, Kalliny escreveu que lamenta ter entrado a estatística das vítimas de estupro.
“Infelizmente hoje eu me tornei só um número”, postou a jovem.
Segundo os dados da Secretaria da Segurança, no mês de abril foram registrados 661 casos de estupro no estado de São Paulo.

E de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os casos de feminicídio aumentaram 41,4% no estado de São Paulo nos meses de março e abril de 2020, comparados com o mesmo período do ano anterior.

"Temos que rever os nossos costumes e ensinamentos. É um problema enraizado em nossa sociedade e infelizmente não é tão fácil combatê-lo", falou a modelo ao G1 sobre os crimes de estupro e feminicídio.

"Eu me achava forte mas após isso descobri forças que eu nem tinha. Minha missão sempre foi lutar pelo movimento feminino e por outras minorias", disse ela à reportagem. "E agora acredito que isso se tornou mais importante ainda pra mim".

“Só posso dizer que nasci de novo, não sou e nem vou ser a primeira, mas sou uma das poucas que conseguiu sair viva”, descreveu Kalliny em sua rede, agradecendo ao apoio que vem recebendo. "Tenho uma força enorme e agradeço a todos que intercederam por mim, não parei de pensar um segundo em como não ando só”.

CONFIRA O VIDEO DO DEPOIMENTO EMOCIONADO DE KALLINY: 
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/video/modelo-recebe-apoio-na-web-o-contar-ter-sido-vitima-de-abuso-em-sp-8603218.ghtml