CÂNCER NO PÂNCREAS MATA O GÊNIO QUE MUDOU O MUNDO DA INFORMÁTICA
NOVA YORK - A Apple anunciou na noite desta quarta-feira que Steve Jobs, 56 anos, morreu.O executivo havia renunciado ao cargo de diretor-executivo da companhia em agosto por problemas de saúde. Em 2004, Jobs teve um câncer no pâncreas, supostamente curado, e fez um transplante de fígado em abril de 2009.
"O brilhantismo de Steve, sua paixão e energia foram a fonte de inúmeras inovações que enriquecem e melhoraram a vida de todos nós. O mundo é incomensuravelmente melhor por causa de Steve", afirmou o conselho da Apple em comunicado.
A companhia não deu detalhes sobre a morte do executivo.
Segundo outro comunicado, da família de Jobs, ele "morreu em paz hoje cercado por sua família".
"Nós sabemos que muitos de vocês vão chorar conosco, e pedimos que respeitem nossa privacidade durante nosso tempo de tristeza."
Repercussão
Personalidades, políticos e amigos lamentaram a morte de Jobs. Um dos primeiros executivos do mercado da tecnologia atual a se manifestar foi Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que disse no Twitter:
"Descanse em paz, Steve. Nós amamos você. O seu legado vai viver para sempre e você sempre estará em nossos corações."
Ele mudou a forma como vemos o mundo (Barack Obama)
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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou:
"Steve estava entre os maiores inovadores americanos - foi bravo o suficiente para pensar diferentemente, forte o suficiente para acreditar que poderia mudar o mundo e talentoso o suficiente para fazer isso. Construindo uma das empresas mais bem-sucedidas do planeta em sua garagem, ele exemplificou o espírito da ingenuidade americana. Construindo computadores pessoais e colocando a internet em nosso bolsos, ele tornou a revolução da informação não só acessível, mas intuitiva e divertida. (...) Ele transformou nossas vidas, redefiniu toda uma indústria e atingiu um dos mais raros feitos da História da humanidade: ele mudou a forma como vemos o mundo. O mundo perdeu um visionário."
Seu rival histórico, Bill Gates, também lamentou a morte do colega:
"O mundo raramente vê alguém capaz de promover um impacto tão profundo quanto o de Steve, cujos efeitos serão sentidos por muitas gerações. Para aqueles de nós que tiveram a sorte de trabalhar com ele, foi uma enorme honra. Vou sentir imensamente sua falta, Steve."
O mundo raramente vê alguém capaz de promover um impacto tão profundo quanto o de Steve (Bill Gates)
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Michael Dell, executivo-chefe e fundador da Dell, disse que o mundo perdeu um líder visionário. "O setor de tecnologia perdeu um ícone, uma lenda e eu perdi um amigo. O legado de Steve Jobs será lembrado por gerações que ainda irão vir. Meus pensamentos e orações vão para sua família e à equipe da Apple".
Tim Cook, um dos fundadores da Apple, afirmou que a empresa perdeu um visionário e um gênio criativo. "Nós que tivemos a sorte de conhecer e trabalhar com Steve perdemos um amigo querido e um mentor que nos inspirava. Steve deixa para trás uma empresa que só ele podia construir.
Steve deixa para trás uma empresa que só ele podia construir (Tim Cook)
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Larry Page, do Google, também lamentou a perda: "Estou muito, muito triste. Ele era um grande homem com resultados incríveis e um brilho especial. Ele sempre me pareceu ser capaz de dizer em poucas palavras o que você realmente deveria ter pensado antes de pensar. Ele foi muito gentil quando eu me tornei CEO da Google, passando tempo e oferecendo conselho e conhecimento, embora ele não estivesse bem."
Já o republicano Arnold Schwarzenegger, ex-governador da Califórnia, disse no Twitter que "Steve viveu o sonho da Califórnia todos os dias de sua vida e mudou o mundo e inspirou a todos nós".
Com Jobs, Apple chegou a ser empresa mais valiosa do mundo
Desde que Jobs reassumira a Apple, há 13 anos, a empresa viu suas ações subirem meteoricamente, multiplicando seu valor em quase cem vezes. Recentemente, a companhia tomou temporariamente da Exxon o título de mais valiosa do mundo.
Mas sua trajetória foi tortuosa. Criança adotada, peregrino na Índia e fã da contracultura durante a juventude, Steve Jobs mais tarde se transformou numa figura mítica que, mesmo tendo abandonado o curso universitário no Reed College, em Portland, Oregon, arrebanhou seguidores ferrenhos graças aos lançamentos de impacto de sua empresa, a Apple - produtos que, com raras exceções, entraram no mercado revolucionando conceitos e práticas, e definindo novos patamares que em pouco tempo se tornaram paradigmas.
Steve Jobs se firmou como prodígio tecnológico na localidade californiana de Cupertino. Foi bem perto dali, no dia 1 de abril de 1976, que ele fundou a Apple aos 21 anos de idade
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Foi o responsável pelo primeiro computador pessoal com interface amigável, o Macintosh, após perceber o potencial comercial da interface gráfica controlada por um mouse, inventada pelo Xerox PARC (Palo Alto Research Center) e, mais tarde, copiada pela Microsoft, na concepção do Windows. Jobs ajudou a tornar os computadores pessoais tão fáceis de usar como os telefones, convenceu os consumidores a curtirem música digital, deu uma repaginada no telefone celular e mudou o jeito de se fazer desenho animado.
Steve Jobs se firmou como prodígio tecnológico na localidade californiana de Cupertino. Foi bem perto dali, no dia 1 de abril de 1976, que ele fundou a Apple aos 21 anos de idade - na garagem da casa de sua família, em Los Altos - junto com alguns amigos, incluindo Steve Wozniak, vulgo "Woz", seu xará e também egresso da faculdade, não por vontade própria, mas por não poder pagá-la. Mike Markkula, ex-gerente da Intel, foi o outro sócio.
Jobs era o empreendedor, vendedor e garoto-propaganda, enquanto Woz era o gênio engenheiro e Markkula, o homem do dinheiro.
Para comprar as primeiras peças com que montariam o Apple I, Jobs investiu US$ 1.500, que levantou com a venda de sua Kombi VW, e Woz entrou com os US$ 250 que faturou ao vender sua calculadora programável HP 65.
O primeiro produto deles a vender bem estourou em 1977 - o Apple II - uma máquina que popularizou a ideia de computadores em casa. Essa maquineta, hoje tida como rudimentar, impulsionou o êxito meteórico de mercado da empresa de Jobs. As vendas da Apple cresceram de US$ 7,8 milhões em 1978 para US$ 117 milhões em 1980. Em dezembro desse ano, houve o IPO da Apple, tornando Jobs e Woz multimilionários. O valor da empresa chegou a US$ 1,8 bilhão.
Em 1983, Jobs lançou o Lisa, computador que não deu lá muito certo e cujo nome era uma homenagem não declarada à sua filha homônima nascida em 1978. No mesmo ano, lançou o Macintosh, que só emplacou para valer alguns anos depois, com o advento das técnicas de e-publishing, em parceria com a Adobe, ao mesmo que tempo em que surgia a impressora a laser e o software Adobe PageMaker. Com o passar dos anos, o Mac constituiu uma linha de produtos que, até hoje, é considerada padrão para várias indústrias, como música, publicidade, cinema, arte e publicações.
Ainda em 1983, Markkula estava querendo se aposentar e não achava que Jobs daria um bom presidente da Apple. Entrou em cena John Sculley, ex-Pepsi, que assumiu como diretor-executivo, convencido por Jobs com o famoso argumento: "Vai querer passar o resto da vida vendendo água com açúcar, ou prefere vir comigo para mudar o mundo?". Mal sabia a encrenca em que estava se metendo.
Os últimos 9 anos foram particularmente lucrativos. O volume de vendas deu um salto assombroso: de US$ 5,4 bilhões em 2001 para US$ 65,2 bilhões em 2010
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Jobs, decepcionado, abriu então duas frentes de ação. A primeira delas foi a NeXT, empresa que fundou para produzir workstations - computadores avançados e poderosos. Fincou também um marco na história, pois o computador NeXT do primeiro servidor web, usado por Tim Berners-Lee no CERN. A segunda frente foi a Pixar.
Em 1996, numa inacreditável ironia do destino, a Apple resolveu comprar a NeXT, trazendo Jobs de volta à empresa que criou. No ano seguinte, assumiu como diretor-executivo e não saiu mais. Um vídeo histórico dessa ocasião mostra Jobs no keynote da MacWorld 1997, em Boston.
Em 1998, ano que marca o renascimento da empresa, a Apple lançou o iMac, que representou uma mudança radical no hardware do Macintosh. O prefixo "i", segundo Jobs, vinha de internet e de indivíduo, evocando a característica pessoal da engenhoca. Mas adiante, como bem sabemos, o prefixo se manteve nos nomes dos eletrônicos de consumo, celulares, tablets e softwares da Apple.
Os últimos nove anos foram particularmente lucrativos. O volume de vendas da Apple deu um salto assombroso: de US$ 5,4 bilhões em 2001 para US$ 65,2 bilhões em 2010, acumulando US$ 229 bilhões na década.
"Por liderar uma triunfal subida ao topo do mundo da tecnologia, desenvolver computadores e aparelhos que viraram a mesa do mercado e proporcionar ao seus investidores um retorno estelar, Steve Jobs é o CEO (diretor-executivo) da década", escreveu o MarketWatch.
Segundo disseram fontes ao "Wall Street Journal", Jobs continuou a se envolver com a estratégia de produtos da Apple mesmo quando estava de licença, e deve continuar a trabalhar em conjunto com Tim Cook sempre que a saúde permitir. Em março deste ano, esteve na conferência de lançamento do iPad 2, e em junho também compareceu ao evento anual de programadores da Apple. Nas duas ocasiões, Jobs estava magro e visivelmente enfraquecido.