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sábado, 21 de junho de 2014

BRASIL COMEMORA 44 ANOS DA CONQUISTA DO TRI NO MÉXICO

Com um time mágico, o primeiro tricampeão

Liderada por Pelé, Tostão, Rivelino, Gérson e Jairzinho, Seleção Brasileira que Zagallo herdou de Saldanha encantou o mundo com um futebol envolvente no México



Ao som da música ufanista “Pra Frente, Brasil”, do jornalista Miguel Gustavo, a Seleção Brasileira conquistava, em 1970, no México, o tricampeonato mundial, que significava a posse definitiva da taça Jules Rimet – pelo menos até ela ser roubada da sede da CBF, no Rio, em dezembro de 1983, e derretida. Mas a equipe comandada por Zagallo e com vários craques como Pelé, Tostão, Rivelino, Gérson e Jairzinho não estava entre as favoritas – o fiasco de 1966, na Inglaterra (queda na primeira fase), ainda assombrava.

A preparação, contudo, foi completamente diferente. Depois do fracasso de 1966, o Brasil ficou quase um ano sem jogar. O presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, criou a Cosena (Comissão Selecionadora Nacional), chefiada por Antonio do Passo. Aymoré Moreira começou como treinador, em substituição a Vicente Feola, mas não foi bem.

Em março de 1969, numa atitude surpreendente, a CBD convidou o jornalista João Saldanha, um de seus maiores críticos, a dirigir a Seleção Brasileira. Sua única experiência como técnico havia sido no Botafogo, entre 1957 e 1959. Na primeira convocação, Saldanha anunciou os titulares, tachados de “feras”.

De abril a agosto, a equipe entrou em campo 13 vezes e venceu todas, incluindo seis jogos pelas Eliminatórias Sul-Americanas, com 23 gols marcados e dois sofridos. Apesar do apoio popular, Saldanha, comunista, era visto com reservas pelo governo militar, principalmente com a posse do general Garrastazu Médici em outubro. A preferência do presidente pelo atacante Dario, do Atlético, a briga com Yustrich (Saldanha invadiu a concentração do Flamengo com revólver em punho atrás do treinador, que o chamara de covarde), a ameaça de barrar Pelé por causa de uma miopia e alguns resultados ruins, como o empate por 1 a 1 com o Bangu, fizeram com que a CBD “dissolvesse” a comissão técnica a 75 dias da estreia.


No dia seguinte, Mario Jorge Lobo Zagallo foi anunciado como o substituto. Sua carreira de treinador era curta: apenas três anos. Mas experiência em Copas não lhe faltava. Vinte e seis jogadores foram convocados para um período de treinos no Retiro dos Padres, em Itanhangá (RJ). Inicialmente, o técnico não queria Tostão e Pelé juntos e seus pontas preferidos eram Rogério e Paulo César, ambos do Botafogo, com Jairzinho no meio. Mas foi dele a ideia de recuar o volante Piazza para formar a zaga com Brito.

O Brasil foi o primeiro país a desembarcar no México, 30 dias antes da Copa, para adaptação à altitude – e como Zagallo prometeu, o último a ir embora. Guadalajara era a segunda maior cidade mexicana e adotou a Seleção Brasileira. A estreia contra a Tchecoslováquia não começou bem. Logo aos 12min, Brito errou passe para Clodoaldo e Petrás abriu o placar. Na comemoração, o tcheco se ajoelhou na lateral do campo e fez o sinal da cruz, gesto que seria imitado por Jairzinho nos jogos seguintes do Brasil, em que sempre marcou gol. Antes da virada, Pelé chamou a atenção para o primeiro de seus não-gols naquela Copa: do meio-campo, tentou surpreender o goleiro Viktor, mas a bola passou à esquerda da trave. No segundo tempo, a Seleção Brasileira melhorou muito e chegou à goleada.

O segundo jogo, contra a Inglaterra, foi o mais tenso. Havia preocupação com os chuveirinhos na área, principal jogada inglesa. Gérson, machucado, foi substituído por Paulo César. No primeiro tempo, Pelé voltou a se destacar em um lance que por pouco não terminou em gol: Jairzinho cruzou e ele cabeceou para o chão, no canto. O goleiro Banks deu um salto certeiro e desviou a bola para fora, rente ao travessão.

Embalado Diante da Romênia, Zagallo teve de mexer mais uma vez: além de Gérson, Rivelino ficou de fora. Piazza foi para o meio, e Fontana, outro cruzeirense, entrou na zaga. Os adversários conseguiram fazer dois gols, mas o Brasil saiu de campo com a terceira vitória e embalado para as fases decisivas. Nas quartas de final, contra o Peru, dirigido pelo bicampeão mundial Didi, a defesa voltou a falhar, mas o ataque foi eficiente e marcou quatro vezes. Gérson retornou ao time, e Marco Antônio atuou na lateral esquerda no lugar de Everaldo. Jairzinho marcou duas vezes e chegou a cinco gols em quatro partidas.


A semifinal também foi contra um sul-americano: os uruguaios. A Celeste saiu na frente, mas não segurou o Brasil. Mais dois lances de Pelé entraram para a história, mesmo não saindo o gol. No primeiro, o goleiro Mazurkiewicz, que viria a jogar no Atlético, bateu tiro de meta e, da intermediária, o maior jogador de futebol de todos os tempos pegou de primeira. Mazurka conseguiu defender. Quase no fim, após lançamento de Tostão, Pelé, sem tocar na bola, deu a volta no goleiro uruguaio, mas chutou para fora.

A decisão seria contra a Itália, também bicampeã. Quem levantasse a taça a levaria definitivamente para casa. O Brasil dominou a maior parte do tempo. Saiu na frente com gol de Pelé. Num descuido, sofreu o empate no fim do primeiro tempo. A Itália quase virou com Domenghini no meio da etapa final, mas a partir daí a Seleção Brasileira foi marcando gol atrás de gol até Carlos Alberto fechar a goleada por 4 a 1.