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abaixo do Pomo de Adão, a glândula tireoide pode até não chamar muito a atenção
num primeiro momento.
Entretanto, ela é
um dos órgãos mais importantes do sistema endócrino (a rede de glândulas que
regula nossos hormônios).
A tireoide é uma
parte particularmente importante da rede endócrina porque ela controla quão
sensível seu corpo está a outros hormônios.
Ainda mais porque
todas as células do corpo têm receptores para os hormônios da tireoide,
tornando-a crucial para um metabolismo perfeito, para um crescimento adequado,
e para a boa saúde cardiovascular e reprodutiva.
Quando o sistema
endócrino está funcionando corretamente, o hipotálamo produz um hormônio
chamado TRH, o qual estimula a glândula pituitária anterior a produzir o TSH.
(TSH vem do inglês
Thyroid Stimulating Hormone – hormônio estimulante da tireoide ou hormônio
tireoestimulante.)
O TSH por sua vez
induz a tireoide a produzir seus próprios hormônios.
A tireoide é
responsável pelos hormônios calcitonina (que faz com que seus ossos absorvam
cálcio), T3 e T4 – que são de longe os mais importantes.
E eles são, na
verdade, duas formas do mesmo hormônio: enquanto o T3 é a forma ativa do
hormônio, o T4 precisa ser revertido em T3 por outros órgãos (o fígado, o
intestino, os músculos e a própria tireoide) antes que ele possa desempenhar o
seu papel no corpo.
Como a tireoide
produz muito mais T4 do que T3, esse processo de conversão é essencial para
manter os os níveis hormonais em equilíbrio.
Sendo que, para
manter estáveis os seus níveis de hormônios, uma certa quantidade de T4
sinaliza para que a pituitária anterior pare de produzir o TSH, pausando a
produção de T4 até que se necessite mais.
Essa é a situação
ideal.
Mas os hormônios
da tireoide podem ser danificados por um ou mais dentre alguns fatores,
causando hipotireoidismo (escassez dos hormônios da tireoide), hipertireoidismo
(excesso deles), ou ambos de uma vez.
Então, devido à
importância da tireoide em regular o metabolismo, essas condições podem trazer
efeitos colaterais muito sérios.
Pacientes sofrendo
de hipotireoidismo sentem constantemente frieza, cansaço e abatimento.
Além disso, eles
geralmente ganham peso sem causa aparente.
O hipotireoidismo
também pode elevar os níveis plasmáticos de colesterol: como o T3 permite que
as suas células utilizem o colesterol para obter energia, baixos níveis de T3
vão manter o colesterol em circulação no sangue.
Já o
hipertireoidismo apresenta alguns dos sintomas opostos: pacientes com
hipertireoidismo comumente também se sentem cansados, mas eles frequentemente
sentem calor e sofrem com perdas de peso aparentemente inexplicáveis.
Os problemas da
tireoide são perigosos, ainda mais porque podem frequentemente levar algum
tempo até serem diagnosticados – já que os sintomas são vagos e genéricos, e a
maior parte das pessoas nem sabe muito bem o que é tireoide.
Para piorar, o
modo de alimentação e o ambiente modernos nos expõem constantemente a todos os
tipos de agentes causadores de stress e toxinas – os quais
podem causar mais danos em uma glândula tireoide já problemática.
Felizmente,
entendendo como e por que acontecem os problemas da tireoide, a maioria das
pessoas pode se esforçar para evitá-los – ou pelo menos tratar os sintomas de
maneira eficiente conforme eles ocorram.
Desregulação da Tireoide e
Autoimunidade
Hiper e
Hipotireoidismo são frequentemente dois lados de uma mesma moeda, sendo que,
por vezes, uma mesma doença pode causar os sintomas de ambas as disfunções.
Portanto, faz mais
sentido pensar nos sintomas da tireoide como um grande grupo de problemas
relacionados e primariamente atribuídos a reações autoimunes e desregulação
metabólica.
Em específico,
existem duas doenças autoimunes que causam anomalias no funcionamento da glândula
tireoide: A Doença de Hashimoto (ou tireoidite de Hashimoto) e
a Doença de Graves.
Para entender
melhor, uma doença
autoimune faz com que o seu sistema imunológico ataque o seu próprio corpo como se alguma parte dele fosse um invasor
estranho.
No caso, essas
duas condições autoimunes que vamos abordar têm como alvo a tireoide.
Ou seja, elas
fazem seu corpo “pensar” que a sua própria tireoide é um inimigo perigoso que
precisa ser eliminado.
A doença de
Hashimoto (tireoidite de Hashimoto) inicialmente pode causar o hipertireoidismo
porque ela passa a destruir as células da tireoide – o que faz com que esta
libere uma grande carga de seus hormônios na corrente sanguínea.
No entanto,
conforme essa doença progride, ela danifica tanto a tireoide que a mesma não
poderá mais produzir a quantidade normal de hormônios.
Sendo assim, os
sintomas da Doença de Hashimoto iniciam como hipertireoidismo e, conforme a
doença vai evoluindo, podem aparecer tanto sintomas de hiper como de
hipotireoidismo.
Uma forma
transitória da Doença de Hashimoto, chamada de Tireoidite pós-parto, é uma condição
que faz com que a mulher desenvolva tireoidite após o parto.
E, assim como
outras formas da doença de Hashimoto, essa pode resultar em hiper ou
hipotireoidismo, ou em sintomas de ambas.
Já a Doença de
Graves, outra doença autoimune, é responsável pela maioria dos casos de
hipertireoidismo.
Em pacientes com a
doença de Graves, a reação do sistema imunológico à tireoide super estimula a
mesma, fazendo com que a tireoide produza T3 e T4 em excesso.
Entretanto,
diferentemente da Hashimoto, a doença de Graves não ataca a tireoide em si.
Sendo assim, os sintomas do hipertireoidismo nunca serão substituídos pelos do
hipotireoidismo.
Agravando ainda
mais a situação, condições autoimunes como Graves e Hashimoto causam inflamação
celular, o que torna as células menos receptivas aos hormônios da tireoide.
A inflamação
também faz com que o corpo pare de converter T4 em T3.
Então, mesmo que a
tireoide produza T4 suficiente, ele não pode ser convertido em T3 de forma a
poder ser utilizado pelo seu corpo. Ou seja, seu corpo fica com falta de T3
disponível.
As causas dessas
doenças autoimunes ainda estão sendo investigadas – a genética
possivelmente contribui, mas não explica tudo.
Provavelmente, o
ambiente também tenha uma grande participação.
Algumas infecções
parecem aumentar o risco de doenças autoimunes que atacam a tireoide, e até
mesmo o stress também tem seu papel nesse problema.
Além desses
fatores, a dieta também tem grande importância no desenvolvimento de doenças
autoimunes – como veremos mais a frente.
Antes disso, precisamos entender qual papel a desregulação da tireoide desempenha no metabolismo.
Desregulação da Tireoide e o Metabolismo
A tireoide tem um
papel importante na regulação do metabolismo, e as doenças da tireoide
frequentemente se apresentam com sintomas metabólicos tais como perda ou ganho
de peso e mudanças na temperatura do corpo quando em repouso.
Mas o elo entre
tireoide e o metabolismo não é uma via de mão única: como a tireoide necessita
de níveis saudáveis de insulina para funcionar corretamente, uma regulação
apropriada do metabolismo também é essencial para a saúde da tireoide, e
problemas metabólicos podem desencadear uma série de sintomas da tireoide, ou
piorar algum problema preexistente.
Esses problemas
metabólicos (como muitas outras doenças) por muitas vezes são resultados de
comportamentos ruins que foram praticados por muito tempo.
Uma dieta elevada
em carboidratos (especialmente carboidratos simples) combinados com um estilo
de vida sedentário, gera resistência à insulina, síndrome metabólica e diabetes.
Essas doenças
estão fortemente relacionadas com problemas da tireoide (isto é, pessoas que
têm um dos problemas têm mais tendência a ter os outros também).
Por exemplo,
Diabetes tipo 1, que também é uma doença autoimune, é especialmente ligada a problemas
da tireoide.
Essa é uma conexão
lógica e previsível, uma vez que grandes doses de insulina danificam a
tireoide.
E a resistência à
insulina, causada pela síndrome metabólica e pelo diabetes, aumenta a
quantidade de insulina no sangue, colocando-a sob stress extremo e,
consequentemente, fazendo com que a tireoide não produza os hormônios de
maneira adequada.
Ambos,
hipertireoidismo e hipotireoidismo, podem também contribuir para mais
resistência a insulina, disparando um ciclo vicioso de mais problemas tanto de
metabolismo quanto de tireoide.
Assim, a
desregulação metabólica causada pela resistência à insulina pode causar
diretamente outros problemas da tireoide.
Contudo, é
importante também notar que uma dieta completamente sem carboidratos, especialmente
para uma pessoa ativa, também pode causar problemas.
(Vale ressaltar
que até mesmo em uma dieta como a dieta
cetogênica – ou dieta cetônica – ainda deve
apresentar uma quantidade mínima de carboidratos ingerida por dia.)
Mesmo que o
excesso de carboidratos seja bem mais comum na sociedade moderna do que a falta
deles, é importante esclarecer os riscos de uma dieta “zero carboidrato” –
especialmente para pessoas que tenham problemas na tireoide.
De maneira
resumida, se você se alimenta de maneira hipocalórica – ainda mais em uma dieta
baixa em glicose – seu corpo pensa que você está passando por um período de
escassez de alimentos (fome).
Então, em resposta
à ameaça da falta de alimentos, ele reduz seu metabolismo e faz tudo que é
possível para reservar a preciosa glicose para o seu cérebro: a função
reprodutiva e a performance atlética são importantes, mas se seu cérebro não
está recebendo a nutrição que necessita, essas duas atividades deixam de ser o
foco.
Soma-se a isso o
fato de que uma das funções essenciais do T3 é transportar glicose para outras
células – portanto, em um contexto de deficiência de glicose, o hormônio T4 é
convertido na forma inativa de T3 reverso (rT3), o qual não transporta glicose
para as células.
Desse modo, uma
dieta de restrição calórica feita por muito tempo – especialmente se ela for
muito baixa em carboidratos – pode causar algo chamado de Doença não
tireoideana ou Síndrome do Doente Eutiroideano (um nome que literalmente
significa “doença da tireoide saudável”).
Esse é uma
condição na qual a glândula tireoide está funcionando normalmente, mas os
hormônios da tireoide não são produzidos nas proporções adequadas. Isso causa o
aparecimento de todos os sintomas de hipotireoidismo, mesmo com uma glândula
tireoide saudável – o que é claramente algo a ser evitado.
Adicionalmente, é
curioso observar que a quantidade total de calorias pode ser
um fator mais relevante do que a fonte dessas calorias na
dieta (veja as referências 7, 8 e 9 ao final do artigo).
Ao mesmo tempo, é
possível causar uma elevação ocasional tanto da quantidade de calorias quanto da
ingestão de carboidratos por meio de mecanismos como umarealimentação estratégica de
carboidratos (também chamada de carb refeed ou dia do lixo).
(Claro que você
não precisa comer alimentos ricos em glúten em um dia do lixo. Entenda mais
sobre como fazer
um dia do lixo paleo.)
Por fim, é
importante notar que os carboidratos da dieta e a função metabólica claramente
têm efeitos sobre o funcionamento da tireoide, mas o consumo ideal de
carboidratos é diferente para cada pessoa, com uma ampla faixa de ingestão
saudável de amido que depende de inúmeros fatores.
Sintomas da Tireoide: Outras
Causas
Assim como no caso
da Síndrome do Doente Eutireoidiano, sintomas de hipotireoidismo não necessariamente
indicam um problema com a tireoide em si.
Conforme falamos,
o estresse alimentar causado por uma dieta na qual se passa fome (baixíssima
ingestão de calorias) pode ativar esse tipo de problema.
Entretanto, outros
tipos de estresses – como doenças severas – também podem provocar isso.
Provavelmente, a
inflamação associada a esses fatores de stress exerce um papel fundamental na
formação de disfunções hormonais em pacientes com a tireoide saudável.
E a resistência
aos hormônios da tireoide é um problema semelhante: mesmo sendo muito rara, ela
pode tornar seus tecidos resistentes aos hormônios da tireoide, gerando
elevação nos níveis de T3 e T4 e sintomas de bócio (inflamação da tireoide).
Além disso,
problemas relacionados à tireoide também podem ser causados por disfunções de
outros órgãos do sistema endócrino, que acabam por influenciar o funcionamento
da tireoide.
Por exemplo, se a
glândula pituitária não está funcionando corretamente (por stress ou outras
causas), ela pode enviar sinais “errados” para a tireoide, resultando em
sintomas de hipotireoidismo mesmo que a tireoide em si esteja funcionando
corretamente.
Mais raramente,
problemas com a tireoide podem surgir de causas que não são totalmente
explicadas nem pelo metabolismo nem pela autoimunidade.
O hipotireoidismo,
por exemplo, pode ser um problema de nascença, observado em bebes cujas mães
tiveram severas carências de iodo na gravidez. Já para outras pessoas, podem
existir causas genéticas que também influenciem.
Como já dissemos acima, a dieta também é um fator muito importante a considerar – especialmente devido ao fato de a tireoide ser tão intimamente conectada ao metabolismo.
Micronutrientes e o Funcionamento
da Tireoide
Já vimos acima
alguns fatores que podem afetar o funcionamento da tireoide. Mas ainda existem
outros muito importantes a serem considerados, como, por exemplo, os
micronutrientes.
Iodo, Selênio e a
Tireoide
Um nutriente
particularmente importante para o bom funcionamento da tireoide é o iodo – e a
sua relação com a saúde da tireoide é particularmente complicada.
Porque, por um
lado, a deficiência de iodo pode provocar sintomas de hipotireoidismo e até
mesmo ocasionar bócio (tanto que em muitos países o sal de cozinha é
fortificado com esse nutriente).
Porém, por outro
lado, para pessoas com problemas na tireoide, consumir mais iodo na dieta
pode piorar sua situação – algo que Chris Kresser diz ser como “jogar gasolina no fogo” (texto em inglês).
Contudo, uma
classe de pesticidas naturais, chamados de goitrogênicos, pode fazer com que a
tireoide não absorva iodo suficiente, causando sintomas de deficiência mesmo
numa dieta adequada em iodo.
Problemas da
tireoide estão assim diretamente ligados a uma sobrecarga de comidas
goitrogênicas, que incluem vegetais crus como brócolis, couve-flor e couve.
Mas calma, isso
não significa que esses alimentos não sejam saudáveis ou que para
comê-los você tenha que aumentar a ingestão de iodo para compensar. (Chris Kresser e Chris
Masterjohn falam mais
sobre o assunto neste artigo / podcast – em inglês).
Como o iodo pode
tanto prevenir quanto piorar problemas da tireoide, determinar quanto dele você
deve comer pode ser um desafio.
Alguns médicos
recomendam iodo como elixir para curar todos os sintomas da tireoide, enquanto
outros são mais cautelosos.
Entretanto, se
você está saudável e apenas deseja prevenir que ocorram problemas, talvez seja
interessante assegurar que você está ingerindo iodo suficiente na sua dieta.
Se você tem
problemas sérios de tireoide, é importante considerar a possibilidade de ferver
os vegetais crucíferos, já que ferver quebra 90% dos compostos
problemáticos para seu corpo, tornando-os mais inofensivos.
Também é válido
conversar com seu médico sobre iniciar algum tipo de suplementação com iodo,
pois a questão da suplementação de iodo está totalmente ligada a outro
micronutriente: O selênio.
(É importante que
você não inicie esse tipo de suplementação por conta própria!)
O selênio está
envolvido com a tireoide porque, além de compensar potenciais problemas de
suplementação excessiva de iodo, ele também é promissor como tratamento anti
inflamatório para casos de doenças autoimunes da tireoide.
Além disso, seu
corpo necessita do selênio para converter T4 em T3, assim a deficiência de
selênio pode causar sintomas de hipotireoidismo mesmo com uma tireoide
funcionando bem.
Por outro lado,
também é importante evitar o excesso de selênio, já que isso também pode piorar
os sintomas de problemas na tireoide.
Resumindo, o equilíbrio
entre iodo e selênio é um muito importante para nosso corpo.
O excesso de um
dos dois é duplamente danoso se vier em conjunto com a deficiência do outro –
então, se você suplementa iodo, pode ser uma boa ideia suplementar o selênio
proporcionalmente – mas, antes de mais nada, fale com um profissional de sua
confiança.
E vale lembrar
que, na maior parte das vezes, é mais fácil simplesmente fazer um esforço para
comer comidas ricas nesses micronutrientes, e confiar nos suplementos caso essa
medida não funcione.
Vitamina D e a Tireoide
A Vitamina D é um
outro fator muito importante na prevenção e tratamento de problemas da
tireoide: sua deficiência é associada não apenas com doenças autoimunes em
geral – e autoimunidade da tireoide em particular – mas também com resistência
à insulina e desregulação do açúcar no sangue.
E o pior é que,
mesmo em alguém que passe tempo suficiente exposto ao sol, muitas das outras
causas de problemas na tireoide – como intestino permeável, stress, síndrome
metabólica e inflamação – reduzem a habilidade do corpo de usar a Vitamina D.
Assim, alguém com
problemas na tireoide pode precisar de ainda mais Vitamina D do que uma pessoa
saudável para obter os mesmos resultados.
Contudo, como com
qualquer suplemento, correr para a farmácia e entornar o frasco não é a melhor
ideia do mundo: Pois o excesso de vitamina D gera riscos de toxicidade,
especialmente se você não está tendo doses suficientes das vitaminas A e K.
E, se você não
consegue obter a quantidade necessária de Vitamina D apenas com exposição ao
sol, comece com uma pequena dose de seu suplemento e vá aumentando aos poucos – conforme
recomendação de seu médico.
Em conclusão,
mesmo que vários micronutrientes sejam importantes para o funcionamento da
tireoide, humanos não foram feitos para ingeri-los de maneira isolada – nossos
corpos são sistemas complexos, e os níveis de um micronutriente pode afetar
todos os outros, causando consequências potencialmente perigosas se começarmos
a suplementar sem atentar para a visão do todo.
Se você tem alguma
doença, incluindo problemas da tireoide, converse com seu médico antes de
comprar suplementos.
Se estiver
saudável, você pode provavelmente obter tudo que você precisa de uma dieta
balanceada, rica em variedade de plantas e produtos animais, ou seja: comida de verdade.
A Dieta e a Tireoide: Outros Fatores
Conforme vimos, os
micronutrientes são uma parte importante da dieta no que se refere a problemas
da tireoide.
Entretanto, ainda
existem outros fatores que também podem provocar problemas nessa glândula –
seja por causa de seus efeitos na tireoide especificamente, ou porque eles
provocam uma resposta autoimune geral.
Um dos grandes
contribuintes para problemas da tireoide é o glúten.
Uma vez que muitos
dos problemas da tireoide são causados ou piorados pela autoimunidade, o glúten
pode contribuir para a desregulação da tireoide em geral, por causar
permeabilidade do intestino.
Normalmente, as
paredes do intestino são impermeáveis, significando que partículas de dentro do
intestino não passam através dele para a corrente sanguínea.
Porém, comidas
como o glúten podem enganar as paredes do intestino, que permitirão sua
passagem assim mesmo (ou seja, o intestino fica permeável), o que permitirá que
o glúten passe para sua corrente sanguínea.
Nesse momento, o
sistema imunológico reconhece que o glúten não faz parte da corrente sanguínea
e o ataca.
Infelizmente, esse
mecanismo provoca uma resposta autoimune geral em todo o corpo, fazendo com que
o seu sistema imunológico ataque suas próprias células, juntamente com o glúten
invasor.
Já que os
problemas da tireoide são em parte originados por disfunções do sistema
imunológico, o fato de o glúten provocar essa reação autoimune (devido ao
intestino permeável) já seria motivo suficiente para bani-lo da dieta se seu
objetivo é realmente cuidar da tireoide.
Entretanto, o
buraco é mais embaixo: porque o glúten contém gliadina, uma proteína que é
quimicamente similar à tireoide.
O que quer dizer
que, quando o sistema imunológico cria anticorpos contra a gliadina, esses
mesmos anticorpos irão acabar por danificar a tireoide.
Além disso,
estudos descobriram que a doença celíaca (uma doença autoimune caracterizada
pela intolerância ao glúten) está fortemente associada com distúrbios
autoimunes da tireoide, provendo assim mais evidências de que pessoas com
problemas na tireoide deveriam evitar completamente alimentos que contenham
glúten.
Um alto nível de
Ácidos Graxos Poliinsaturados (abreviados em inglês como PUFAs) também podem
afetar o funcionamento da tireoide – essas gorduras causam inflamação, que pode
danificar a tireoide.
Tanto quanto
algumas comidas específicas que você come, o estado da sua flora intestinal
também pode afetar o funcionamento adequado da tireoide, já que a flora
intestinal ajuda a converter T4 em T3. Um desequilíbrio da flora intestinal
tornará essa conversão ineficiente, e pode contribuir para a falta de T3 no seu
corpo.
Assim, mesmo que
os fatores alimentares que afetam o funcionamento da tireoide sejam altamente
complexos e não possam ser atribuídos a uma “causa” está claro que uma dieta
simples e saudável, baseada em comida de verdade, como a Dieta Paleo irá contribuir
muito positivamente para a sua saúde e para a saúde da sua tireoide.
Stress e a Tireoide
O stress crônico
não é bom para nenhuma parte do seu corpo e nem para sua vida, mas aqui vai
mais um bom motivo para evitá-lo: a saúde da sua tireoide também pode ser
prejudicada por causa dele.
Stress é um dos
fatores ambientais associados com o início de doenças autoimunes da tireoide
como a Graves e a Hashimoto – provavelmente porque o stress crônico contribui
para um intestino mais permeável e causa inflamação crônica.
O stress pode também
estar ligado a alguns dos outros fatores de risco para problemas da tireoide,
incluindo problemas metabólicos e desregulação da taxa de açúcar no sangue.
Ainda no
intestino, o stress pode acabar por danificar seriamente a flora intestinal, e
interferir também no bom funcionamento das glândulas adrenais, causando
problemas nos dois órgãos responsáveis pela regulação da tireoide: o hipotálamo
e a pituitária.
Como se isso não
bastasse, a inflamação crônica e o desequilíbrio hormonal que acompanham os
altos níveis de stress interferem na captação dos hormônios da tireoide e na
conversão do T4 em T3.
Claro que é muito
fácil apenas falar “não se estresse”, mas os potenciais problemas da tireoide
devem apenas ser adicionados à lista de razões pelas quais você deveria desligar a TV e dormir cedo, ou tirar um dia de folga aqui e acolá só
para relaxar e apreciar uma longa caminhada no parque e uma boa leitura.
Mesmo com as
prateleiras cheias de suplementos a sua disposição e milhares de blogs cheios
de novos planos de dieta e receitas super nutritivas, algumas vezes a melhor
coisa que você pode fazer pela sua saúde é apenas se desconectar do mundo e
relaxar.
Reposição do Hormônio da
Tireoide
A disfunção da
tireoide é um problema complicado e multifacetado.
Enquanto algumas
pessoas preferem tratar sua tireoide exclusivamente com dietas e mudanças no
estilo de vida, muitos também se voltam para uma abordagem médica mais
convencional.
Um tratamento
padrão para os sintomas de hipotireoidismo é a reposição hormonal,
geralmente na forma de T4 sintético. Esse tipo de tratamento pode ajudar muitas
pessoas, apesar de poder causar efeitos colaterais em algumas delas.
De toda forma, a
terapia com hormônios pode ser uma boa maneira de melhorar a qualidade de vida
de quem apresenta hipotireoidismo.
Um ponto positivo
é que o tratamento de reposição de T4 não é necessariamente “para sempre”: você
pode precisar da reposição hormonal por algum tempo, como forma de controlar os
níveis dos hormônios da tireoide enquanto arruma outros fatores como dieta e
estilo de vida – e então, em muitos casos, pode ser capaz de deixar a
medicação.
Um ponto importante
para se ter em mente com a reposição do T4 é que ela não vai ajudar você se
você tiver a Síndrome do Doente Eutireoidiano (que discutimos mais acima) ou
outro problema que não seja realmente o resultado de um mau funcionamento da
tireoide.
Isto é, se seu
corpo está sofrendo com inflamação sistêmica e isso faz com que você não
converta T4 em T3, por exemplo, não importa quanto T4 você tome – porque ele
continua sendo uma forma inativa do hormônio. Nesse caso, a alternativa é
tomar T3 sintético diretamente.
De todo modo, é
importante conversar sobre sua condição e seus sintomas particulares com um
médico de sua confiança.
Afinal, são muitas
as condições autoimunes, com diversos fatores ambientais que podem influenciar
os sintomas da tireoide. Então não existe uma recomendação única, que sirva
para todos os casos, no que se refere à terapia hormonal para tratar problemas
da tireoide.
E, caso você
esteja preocupado se o seu médico terá aquela abordagem ultrapassada de
prescrever “grãos integrais saudáveis” e uma dieta com poucas gorduras
(low-fat), experimente se consultar com algum profissional da Lista de profissionais de
saúde paleo / low carb (compilada pelo Doutor Souto) para encontrar alguém
interessado em trabalhar com as suas escolhas e estilo de vida
– em vez do contrário.
Conclusão
O bom
funcionamento da tireoide é essencial para se ter uma boa saúde e bem-estar:
problemas autoimunes da tireoide podem deixar você doente e abatido demais para
curtir a vida, e ignorá-los apenas irá piorar os problemas.
Mesmo que as
causas das disfunções da tireoide não sejam completamente compreendidas, estresses
alimentares e ambientais claramente desempenham algum papel.
Isso significa que
a abordagem Paleo para prevenir problemas de saúde da tireoide é a mesma que
para todo o restante: comer uma dieta baseada em comida de verdade, evitar toxinas, e minimizar o stress.
E, se você já
sofre de problemas da tireoide, uma dieta Paleo pode te ajudar ao eliminar
vários fatores alimentares que podem estar piorando seus sintomas (como o
glúten e a falta de sono) – isso não é uma cura completa, mas certamente é um
passo na direção correta.
Fonte: site doutor
tanquinho