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terça-feira, 18 de novembro de 2014

MODELOS PLUS SIZE SÃO MAL TRATADAS EM BRASÍLIA

Contra 'gordofobia', misses protestam de lingerie em frente ao Congresso e são hostilizadas por policial militar

Modelos disseram terem sido vítimas de preconceito em hotel da capital.
Objetivo das modelos é mostrar que elas não têm vergonha de quem são.

Modelos Plus Size foram protestar em frente ao Congresso Nacional
contra "gordofobia" em hotel de Brasília e acabaram sendo
denegridas por um policial militar
Quatro misses plus size, vestidas apenas de peças íntimas, fizeram uma manifestação contra a "gordofobia" em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, nesta terça-feira (11). O ato aconteceu depois que duas delas ouviram do recepcionista de um hotel da capital que não caberiam juntas em uma cama de casal.
As duas modelos são do estado de São Paulo e vieram a Brasília para participar de um ensaio fotográfico contra a discriminação a obesas, previsto para esta terça. Depois do que ocorreu no hotel, elas se juntaram a outra dupla que também participaria da sessão de fotos e resolveram fazer o ato. Segundo as misses, o intuito do ensaio é provar que elas não têm vergonha do corpo.
"As meninas chegaram para a gente fazer um trabalho em Brasília contra o preconceito e, já no dia que chegaram, sofreram preconceito no hotel", diz a miss plus size DF, Janaína Graciele, de 34 anos. "Na hora do check-in, o pessoal do hotel já falou que, se eram as duas na cama de casal, era melhor olhar a cama, porque [ele] achava que não ia caber as duas."
“Não falamos nada, ficamos sem graça. Mas tudo bem, fomos lá e olhamos a cama, que cabem até três [pessoas]. Mas foi um preconceito”, disse Janaína. “Não entendo como que é. Faz um hotel que acha que nunca vai ter uma hóspede gordinha?”



Maquiadas, de salto alto e cobertas apenas com robes, as misses DF, São José do Rio Preto, Baixada Santista e São Paulo chegaram ao gramado do Congresso Nacional por volta de 14h. Acompanhadas de três fotógrafos e uma maquiadora, as modelos chamaram a atenção de funcionários, vigias e turistas, que tiraram fotos e gritaram palavras de apoio. Muitos motoristas buzinavam enquanto elas faziam poses para as lentes.
“A gente quer mostrar para as meninas que não temos que ter vergonha do que nós somos, do corpo que nós temos. Nós somos lindas, maravilhosas, e cada uma tem sua beleza”, disse a miss São Paulo, Camila Bueno, de 19 anos. "Viemos aqui hoje protestar contra isso, contra todo o preconceito, e mostrar quem a gente é de verdade, e que não é porque é gorda que não pode ser maravilhosa.”
Depois do incidente no hotel, as misses dizem terem sido vítimas de preconceito em um bar. “Domingo à noite saímos para um barzinho e, na hora que entraram as quatro misses, um pessoal de uma mesa lá disse: ‘Olha lá, já entraram as gordas. As meninas se chocaram”, diz Janaína.
“A gente tem a autoestima elevada, a gente compreende bem. Mas e quem não tem? E quem tem autoestima superbaixa? Se entrasse no barzinho, já saía, perdia a noite, a vida, de não querer se aceitar”, disse. “Recebemos muitos comentários [sobre o incidente] dizendo: ‘ai, isso acontece todo dia comigo, nem saio mais de casa, nem vou no shopping’. Então a gente vê que abala muito, que afeta. Sei que a gente vai receber muitas críticas, mas taí para gente pagar para ver.”


Apesar de três das modelos serem de São Paulo, as quatro participantes do protesto fazem parte do BSB Plus Size, grupo que realiza ações voltadas para as mulheres com sobrepeso na capital federal. Entre os projetos organizados em dois anos de existência, está um calendário com fotos das "gordinhas" em frente a monumentos de Brasília, uma revista voltada para o segmento, uma campanha de prevenção ao câncer de mama e um ato pela criação de um hospital para obesos no DF.


Na hora do check-in, o pessoal do hotel já falou que, se eram as duas na cama de casal, era melhor olhar a cama, porque [ele] achava que na cama não ia caber as duas" (Janaina Graciele, Miss Plus Size DF)



PM do DF chama modelos plus size de 'leitoas'; corregedoria investiga

Militar disse que mulheres gordas são 'quarteto bacon' e 'sacos de toucinho'.
Miss Plus Size disse que vai processar policial por injúria e difamação.



A Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal abriu sindicância para apurar denúncia de que um policial teria usado sua página pessoal nas redes sociais para ofender as modelos plus-size que tiraram fotos de lingerie em frente ao Congresso Nacional na semana passada. No post, ele chama as mulheres de "saco de toucinho", "leitoas" e "criaturas bizarras".

“Não dá para acreditar que um ser humano seja capaz de falar isso, ainda mais sendo policial. Imagina se eu passar por algum tipo de transtorno, tiver a casa assaltada e chamar a polícia? Tenho a sensação que se for ele a atender a ocorrência, ele vai me deixar morrer.” (Rayanni Costa, empresária)

A publicação do PM foi apagada pouco depois, mas centenas de usuários copiaram a imagem e divulgaram mensagens de repúdio ao policial. O G1 ligou para o 28º Batalhão, no Riacho Fundo, onde o policial é lotado, e foi informado de que o militar está de licença médica com uma doença muscular degenerativa. A reportagem deixou contato telefônico com o responsável e pediu que o PM entrasse em contato, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Fotografada em frente ao Congresso, a Miss Plus Size DF, Janaína Graciele, disse que vai entrar com uma ação na Justiça e na Corregedoria da PM para que o militar seja punido pelas ofensas que fez. “Achei um absurdo. A gente já esperava críticas, mas as ofensas dele não foram apenas críticas. As palavras que ele usou foram extremamente cruéis, foram palavras de baixo calão. Ofendeu mesmo, e não vamos deixar quieto”, disse.
A advogada Vanusa Lopes não conhecia as modelos quando, indignada, compartilhou a publicação do policial. Ela disse que foi procurada pelas misses e que vai representá-las na Justiça. “Vamos ingressar com uma ação penal por crime de injúria e difamação e, certamente, pedido de indenização para as próprias modelos”, diz. “Qualquer mulher que se sinta gorda e que tenha se sentido ultrajada pelas agressões pode entrar na Justiça contra ele, porque ele já começa o texto dizendo que a pior obra de engenharia de Deus foi a mulher gorda."
Em nota, a Polícia Militar afirmou que é contra qualquer manifestação preconceituosa e que apoia diversas iniciativas de combate ao preconceito. "A Corregedoria da PMDF apura se o perfil é realmente de um policial militar. Caso seja provado que a autoria é de um integrante da corporação, o fato será apurado de acordo com a lei", diz trecho (veja íntegra da nota no fim do texto).

Também "plus-size", a empresária Rayanni da Costa, de 25 anos, conta que tem amigos em comum com o policial, e que, no passado, a irmã dele já quis apresentar os dois. “Cheguei a conhecer os pais dele e convivi bastante com a irmã dele. Inclusive, ela falava bastante dele e dizia que ele iria ficar maluco se me conhecesse, porque ele é louco por gordinhas. Ela dizia: ‘Ai, amiga, se ele te ver não vai te deixar em paz, ele gosta de gordinhas.”

Rayanni da Costa empresária das misses
Rayanni diz que também pretende entrar com uma ação na Justiça por danos morais contra o policial. “Me senti extremamente ofendida. É inaceitável. Não quero dinheiro, indenização, simplesmente quero que alguém pare ele, porque ele se acha no direito de falar o que quiser", afirma.
“Não dá para acreditar que um ser humano seja capaz de falar isso, ainda mais sendo policial. Imagina se eu passar por algum tipo de transtorno, tiver a casa assaltada e chamar a polícia? Tenho a sensação que se for ele a atender a ocorrência, ele vai me deixar morrer.”
Casada e mãe de uma menina, a empresária diz que apoia o protesto das misses. “Com certeza me senti empoderada. Apoiei, achei justo. Sou gorda e não tenho nenhum complexo com isso. Não tenho aquele ideia de que o biotipo de mulher é ser magra, ser bonita. Me acho bonita como sou, tenho a autoestima bastante elevada.“
Impacto positivo
Apesar das críticas, a Miss Plus Size DF diz que a repercussão do ensaio foi muito mais positiva do que negativa. “Não esperava tanto. A reação das pessoas tem sido muito positiva. Recebo mensagens a todo momento de mulheres que não estudavam mais, não trabalhavam, não saíam de casa, e que de repente tiveram o incentivo de voltar à vida”, afirma. “Fico feliz que a gente conseguiu passar que tem que ser feliz, independente do IMC [Índice de Massa Corpórea] de cada um.”

O ato das misses foi realizado em protesto contra a gordofobia, depois que duas delas ouviram do recepcionista de um hotel da capital que não caberiam juntas em uma cama de casal.
"Nota da Polícia Militar do DF

A Polícia Militar do Distrito Federal reitera que é contra qualquer manifestação preconceituosa. A instituição apoia diversas iniciativas de combate ao preconceito.
A Corregedoria da PMDF apura se o perfil é realmente de um policial militar.
Caso seja provado que a autoria é de um integrante da Corporação, o fato será apurado de acordo com a lei.
A Polícia Militar do Distrito Federal não tolera nenhuma manifestação que possa denegrir a imagem de quem quer que seja."