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sábado, 13 de setembro de 2014

Quanta empatia merecem as travestis?

Por Jarid Arraes


Na última quarta-feira (10/09), o site da Rede Metropolitana de Rádio (SP), noticiou a morte de uma travesti. Ela, que tinha apenas 23 anos, foi jogada na beira de uma estrada por um caminhoneiro que a procurou para um programa, mas acabou por roubá-la e descartá-la do caminhão em movimento. O homem é suspeito de ter agredido outras cinco travestis na cidade de Caçapava (SP). Ninguém se mobilizou para protestar contra o assassinato da travesti, que permanece anônima.

Segundo dados levantados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2013 cerca de 312 pessoas foram assassinadas por serem do grupo LGBT; na maioria das vezes, as pessoas tratam todos os assassinatos como sendo motivados por homofobia, no entanto, a maioria das pessoas mortas são travestis e transexuais, em muitos casos assassinadas por clientes que procuraram sexo. Assim como o caminhoneiro de Caçapava, vários agressores são homens que sentem desejo sexual por mulheres trans, mas ao mesmo tempo sentem por elas um ódio destruidor. Usam-nas sexualmente, hipersexualizando-as, mas não atribuem a essas mulheres a condição de ser humano. Antes sentem nojo, repulsa, e talvez por não conseguirem lidar com seus desejos sexuais, externalizam suas confusões identitárias em pessoas inocentes, que apenas lutam para sobreviver.

Lamentavelmente, é muito raro que vejamos mobilização política em protesto contra as mortes das travestis. É quase como se todos nós já esperassemos que morram, como se o assassinato motivado por transfobia fosse algo tão natural que nem sequer vale a pena gastar energia reivindicando o fim desse quadro. Não é exagero dizer que todos os dias é noticiado algum caso de travestis e transexuais agredidas, presas injustamente ou assassinadas. Onde está a militância LGBT e feminista nessas horas? Onde está o movimento negro brasileiro, visto que tantas mulheres trans mortas são negras?

Travestis e transexuais também são indivíduos únicos e complexos, mas a abjeção a elas é internalizada de tamanha forma na sociedade que seu padecimento não choca nem sensibiliza. Os questionamentos em torno desse problema são amplos e precisam transpor os limites da especulação teórica, ultrapassando o simples debate do que é ser transgênero. Falta mobilização para defender os direitos das pessoas trans, pois a realidade brasileira é abusiva em muitos aspectos, sendo negado a essas pessoas o acesso a educação, saúde, trabalho, lazer, ou até mesmo à luta política.

A verdade gritante é que travestis e transexuais ainda morrem sem que sua sociedade se importe com elas. Enquanto decidimos se discutimos o que é transfobia e como esse tipo de discriminação funciona na sociedade, centenas de vidas são roubadas. Como militantes pelos direitos humanos, o absoluto mínimo que devemos fazer é conceder às travetis o mesmo nível de empatia que dispensamos aos gays.