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sábado, 13 de setembro de 2014

CASAMENTO COLETIVO NO SUL TEM UNIÃO GAY

Após polêmica e incêndio, casal gay é aplaudido em união coletiva no RS

Celebração em Fórum tem a participação de um casal homoafetivo.
Caso ganhou repercussão após CTG pegar fogo em Livramento.


Vinte e oito casais, sendo um formado por duas mulheres, trocaram alianças e oficializaram a união na tarde deste sábado (13) no Fórum de Santana do Livramento, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Após polêmica gerada depois que o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) que abrigaria a cerimônia pegou fogo, o evento teve as presenças de autoridades como a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti. 


Ao som da marcha nupcial, o casal Solange Rodrigues e Sabriny Benites entrou por último no salão do júri e foi aplaudido de pé pelos convidados presentes. As mulheres não falaram com a imprensa na chegada ao fórum. Discretas, as duas entraram no prédio pela porta dos fundos.
"Por que essa cerimônia causa tanto incômodo ao tradicionalismo?", questionou a juíza Carine Labres em discurso, no início da celebração. "Qual a razão de tanta intolerância?", indagou.

O discurso seguiu com a palavra da secretária da Justiça e dos Direitos Humanos do estado, Juçaria Vieira. “Quero saudar as meninas. Porque valentia é uma coisa. Coragem é outra. Estão orgulhando todos os casais que estão celebrando a sua vontade. Esse casamento coletivo tem um grande significado para a vida de vocês. Voces são testemunhas de uma história que precisa mudar”, afirmou.
Ao defender a criminalização da homofobia, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, também falou aos noivos e noivas. “Essa solenidade que é uma solenidade de amor. O que ocorreu aqui acabou trazendo tantas autoridades e imprensa e servirá para o debate nacional sobre a importância de se respeitar na sociedade brasileira, pelo que se é, dando-lhe todos os direitos e oportunidades. Tem um trecho de uma música que eu costumo lembrar, diz muito do que estamos fazendo aqui hoje: qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amar valerá. O amor é que vale. Exatamente por isso tem que ser respeitado”, destacou.
Juíza Carine Labres celebrou a cerimônia vestida
de prenda (Foto: Estevão Pires/G1)

A mesma observação pautou a fala do presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, José Aquino Flôres de Camargo. "Estamos aqui celebrando a vida e o amor. A polêmica surgiu porque um deles era homoafetivo e, portanto, diferente, aos olhos de muitos. Vivemos em uma sociedade permeada por inúmeras desigualdades. Raciais, sociais, econômicas, setoriais, que provocam injustiças. Não é sem razão que o judiciário tem sido demandado para se desfazer dessas desigualdades. O papel do judiciário nesse contexto é de promoção da pacificação social", explanou. "Estamos aqui presenciando pessoas simples e humildes celebrando um passo importante.  O símbolo do amor aqui é o acolhimento", concluiu.

O ambiente, decorado com as cores da bandeira do Rio Grande do Sul e do movimento LGBT, foi a opção da magistrada, que propôs inicialmente que o matrimônio coletivo fosse realizado no CTG Sentinelas do Planalto na cidade. O galpão, porém, foi alvo de um incêndio criminoso na madrugada de quinta (11). Apesar do mutirão proposto para reconstruir o espaço, não houve condições e nem tempo suficiente para concluir os trabalhos.
Com entrada restrita e policiamento reforçado ao redor do prédio, a juíza celebrou o casamento vestida de prenda. "É para reforçar o combate à homofobia no tradicionalismo. Foi um sacrifício. Será um grande evento diante de casais que não se acovardaram. Não vamos nos calar .Os diretos das minorias estão garantidos", disse ela ao G1, antes da celebração.
No interior do prédio, familiares dos casais, a maioria de baixa renda, relataram orgulho diante da confirmação do casamento. Entre os parentes, há o caso de uma família que terá dois filhos participando da celebração.
“Para nós ficará marcado para sempre. Não tivemo incômodo nenhum [pela repercussão]”, disse o aposentado Rafael Machado Torres, de 62 anos, que os filhos Vanessa, de 23, e Marcio, de 26, oficializando seus casamentos simultaneamente.
Mesmo que o evento tenha ocorrido fora de um CTG, um dos 27 noivos fez questão de celebrar o tradicionalismo. O apicultor Fábio Charão, 30 anos, chegou ao Fórum montado em um cavalo, e trajado com a indumentária tradicionalista do estado. “Jamais me incomodou a presença de um casal gay. Jamais. E acho sim que há preconceito Cada um tem que saber o que faz”, analisou.

O incêndio ocorreu na madrugada de quinta-feira (11). De acordo com o Corpo de Bombeiros, o fogo começou por volta de 0h30, e as chamas foram controladas cerca de três horas depois. Ninguém ficou ferido, mas o fogo atingiu a parte interna da estrutura, justamente o palco, onde acontecerá o evento.
A Polícia Civil diz que o incêndio foi criminoso. Um garrafa com resquícios de gasolina foi encontrada no galpão do CTG, que, segundo a polícia, pode ser um coquetel molotov, artefato incendiário de fabricação caseira. Testemunhas relataram que viram quatro pessoas próximas ao CTG antes do início das chamas, mas a polícia diz que, por enquanto, não há suspeitos de autoria do incêndio.
Logo após o incêndio, um mutirão se formou para reconstruir a estrutura danificada do galpão a tempo do casamento coletivo. Segundo o patrão do CTG, Gilbert Gisler, o Xepa, a instituição recebeu mais de 40 doações de material de construção, de pessoas físicas e jurídicas. A comunidade de Santana do Livramento também doou a mão de obra para a reconstrução do local.
Entidades manifestam repúdio
O presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Manoelito Savaris, diz que o local não é filiado ao MTG desde 2005. Ele foi desligado porque os integrantes da comunidade não seguiriam mais as regras do movimento. “Caso isso acontecesse dentro de um CTG filiado, o Conselho do MTG, composto por 49 pessoas, iria se reunir para avaliar o assunto”, declarou.

Por meio de nota, o MTG disse que os atos de vandalismo praticados contra o CTG “merecem nosso repúdio” e que o movimento “é respeitador das leis e não tem nenhuma restrição a preferências religiosas, ideológicas ou sexuais das pessoas”. Ainda conforme o texto divulgado pela entidade, “qualquer tentativa de vincular o episódio envolvendo aquela associação com o MTG também é repudiada”.
Também por meio de nota, a Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos do Rio Grande do Sul repudiou o que classificou como “atitude homofóbica de um pequeno grupo de pessoas”. "Fica claro que a atitude configura-se em um crime de homofobia, pois havia um casal homossexual que participaria da cerimônia”, diz o texto assinado pela a secretária da pasta, Juçara Dutra Vieira, e a coordenadora da Diversidade Sexual, Marina Reidel.