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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

SUPLEMENTO PODE TER MATADO JOVEM


A polícia não chegou a uma conclusão sobre o que causou a morte do jovem Wilson Miranda de Saraiva Sampaio Filho, 18 anos, em maio de 2011. Os resultados da investigação foram apresentados nesta quinta-feira (25) pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).

O jovem, que sonhava ser jogador de futebol, estava consumindo há um mês um suplemento alimentar que tem venda proibida no Brasil - a família não sabia - e foi encontrado morto no banheiro de casa pelo pai.

O produto que pode ter provocado a morte do estudante é uma substância em pó e que devia ser diluída em água uma hora antes do consumo com a promessa de melhorar o desempenho físico. De acordo com testemunhas, inclusive amigos do rapaz, quem consome o produto costuma ter formigamentos nas mãos e insônia.
Responsável pelo caso, a delegada Gleide Ângelo explica que o estagiário que vendeu o produto ao garoto não pode ser indiciado por nenhum tipo de homicídio uma vez que não foi possível associar a droga diretamente à morte. "Eu não sei do que ele morreu, não sei se foi homicídio e não sei o que causou a morte. É esse o laudo que eu tenho. Entendo a dor da família, mas a gente só pode trabalhar em cima da prova, da perícia, não de testemunhos", explica a delegada.
A delegada lembra que o estagiário que vendeu o produto não vai ficar impune. "O DHPP investigou a questão da morte. Pela morte, ele não pode ser indiciado, mas pela venda do produto, sim. E ele está sendo indiciado pelos crimes contra a relação de consumo e contra a saúde pública, porque o produto não era reconhecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)", explica Gleide.
Chefe do laboratário do IC Gilberto Pacheco e delegada Gleide Ângelo. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Gilberto Pacheco e a delegada Gleide Ângelo 
explicaram
o caso. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
O chefe do laboratório do Instituto de Criminalística (IC), Gilberto Pacheco, se disse 'altamente frustrado' pelo laudo inconclusivo. "Como profissional de perícia, preciso me ater às metodologias científicas. Quando uma pessoa ingere uma substância ela é metabolizada. Quando Wilson ingeriu esse suplemento, ele se transformou em outro metabólico que a ciência não tem como analisar. Consultamos RS e SP e eles responderam que não dispõem dessa metodologia e não sabem no que ela se transforma", afirma Pacheco.
Os pais do jovem, o dentista Wilson Sampaio e a funcionária pública Michelle Sampaio não aceitaram o não indiciamento do estagiário. Eles acompanharam a apresentação, muito abalados. "Meu filho morreu do que, finalmente? Se foi feito um exame e não achou o produto, não quer dizer que o produto não esteja lá, que não saiu um resultado. Subentende-se o que? Foi o que? Um menino que não tinha problema nenhum de saúde, como é que tem morte súbita assim?", questiona o pai.
Revoltado, Wilson ainda pergunta quantos outros jovens vão morrer em decorrência da utilização da droga DMAA - dimetilamilamina, que fazia parte do complemento. "Então, vão morrer outros garotos, querem estar bem e ninguém vai saber a causa da morte? Ninguém vai saber que esse produto foi utilizado pelo garoto? As pessoas vão vender e as não vão ser presas, ninguém vai ser indiciado, porque não tem metodologia para detectar?", diz o dentista.
Pais do jovem Wilson Filho acompanharam a apresentação, emocionados e revoltados. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Pais do jovem Wilson Filho acompanharam a apresentação, emocionados e revoltados. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Os pais do jovem afirmam que não vão ficar de braços cruzados e vão continuar na luta para provar que o filho morreu em decorrência do produto. "Vamos estudar metodologia para que seja preso, não tenha impunidade como está tendo agora. Foi pior que ele vender uma cocaína, crack. Esse produto aí é muito pior, porque é para uma pessoa que quer melhorar, quer ficar bem. Produto que engana", afirma Wilson.
A mãe, Michelle, afirma que encontrou uma metodologia que está sendo estudada na Suécia que identifica a droga no organismo. "Vamos mandar o link para o IC para que eles vejam e entrem em contato para poder solicitar a metodologia. Eu me sinto uma vitoriosa, vou continuar lutando, vou nas academias ver se tem as placas avisando que não pode vender", avisa a funcionária pública. O chefe do laboratório do IC lembra que o método precisa ser certificado. "Consultamos diversas universidades, mas no Brasil ninguém conhece a metodologia", explica Pacheco.
Venda ilícita
A família afirma que o produto vinha sendo vendido de forma ilícita em academias do Recife, em especial de Boa Viagem, na Zona Sul, onde Wilson Filho malhava. Após a morte do jovem, a família começou uma luta para alertar dos perigos da utilização da DMAA.

Em julho deste ano, a droga foi incluída na lista de entorpecentes pela Anvisa, ou seja, a partir de agora, quem for pego vendendo suplementos que contenham esse componente, vai ser indiciado, entre outros crimes, por tráfico de entorpecentes. "A pena para tráfico de drogas é ainda maior que homicídio. O rapaz que vendeu o produto não entra, porque a atualização é desse ano e a lei não retroage para prejudicar", afirma a delegada.