O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020 será aplicado em 17 e 24 de janeiro de 2021. O Ministério da Educação (MEC) anunciou a data das provas em coletiva de imprensa na quarta-feira (08/7). Esse é o cronograma da edição impressa. Já o Enem digital, feito em forma de projeto-piloto neste ano, será em 31 de janeiro e 7 de fevereiro.
O cronograma original, mantido pela pasta até meados de maio, mesmo com o avanço do novo coronavírus pelo Brasil, era para aplicar o Enem impresso em 1° e 8 de novembro deste ano. A versão digital da prova seria feita em 11 e 18 de outubro. A paralisação das escolas - além de pressões do Congresso, de secretarias estaduais de Educação e da sociedade - levou a pasta a adiar o exame.
Antonio Vogel, secretário-executivo do MEC que está como ministro interino da pasta, afirmou que a escolha levou da nova data levou em conta questões técnicas, ouvindo secretarias estaduais de educação e instituições de ensino superior privadas e públicas.
— Não é uma decisão perfeita e maravilhosa para todos. Então buscamos uma solução técnica e tentando ver a data que melhor se adequa para todos—afirma Vogel.
Vogel afirmou ainda que o MEC poderá abrir mais uma seleção do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que dá acesso ao ensino superior com a nota do Enem, além das duas edições que já são praxe -- uma em cada semestre do ano. A possibilidade ainda será discutida futuramente com as instituições de ensino superior.
Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes destacou que os preparativos para o Enem estão regulares na autarquia. Ele voltou a dizer que será necessário fazer alterações em razão da pandemia, como distanciamento dos alunos, disponibilização de álcool em gel e máscaras, entre outras diretrizes.
O MEC fez o anúncio com a participação de secretários estaduais de Educação como forma de mostrar o respaldo do setor à decisão. Participaram, entre outros, os dirigentes da área em São Paulo, Rossieli Soares, que é ex-ministro da Educação, e Fred Amancio, de Pernambuco.
A presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Cecília Motta, afirmou que a data foi a "menos danosa" para os estudantes, uma vez que não atrapalhará a regularidade de seleções como Sisu, Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), de crédito estudantil, e Programa Universidade para Todos (ProUni), de oferta de bolsas no ensino privado a estudantes carentes.
Antes de definir as novas datas, porém, o MEC fez uma enquete com os candidatos, ainda na gestão de Abraham Weintraub, que deixou a pasta por desgastar o governo com ofensas ao Supremo Tribunal Federal (STF). A maioria dos estudantes escolheu, na pesquisa da pasta, maio de 2021 para a aplicação das provas do Enem.
Ao divulgar o resultado, no início deste mês, o MEC avisou que a escolha dos estudantes não seria o único aspecto a ser levado em consideração na definição das datas do Enem 2020. Secretários estaduais de Educação, universidades e instituições ligadas à área também seriam consultados antes da definição final, informou a pasta à época.
Cerca de 1,1 milhão de estudantes participaram da enquete, o que corresponde a 19,3% dos quase 5,8 milhões de inscritos no Enem 2020. Do total, 553.033 estudantes escolheram fazer o Enem em maio, o que representa 49,7% dos que opinaram na sondagem. Outros 392.902 (35,3%) escolheram fazer em janeiro, e 167.415 ( 15%) optaram por dezembro deste ano.
Resistência do governo
O governo resistiu a mudanças na data do Enem por conta do novo coronavírus. Até meados de maio, quando as escolas do país já haviam fechado entre março e abril, o então ministro Abraham Weintraub defendia a manutenção do calendário, fazendo coro ao discurso do governo de minimizar os impactos da pandemia.
Após o avanço de projetos que adiavam o Enem no Congresso e pressão de outros segmentos, o MEC decidiu alterar a data. Primeiro o governo afirmou que adiaria entre 30 e 60 dias. Depois, lançou a ideia da enquete com os inscritos, por ordem de Weintraub.
As datas colocadas na enquete foram sugeridas pelo gabinete do então ministro, sem um estudo anterior que justificasse a definição das opções postas. O Inep, responsável pela aplicação da prova, foi questionado pelo GLOBO sobre análises prévias a respeito das datas definidas para compor a enquete, mas não respondeu.
O resultado da maioria dos estudantes que votaram na enquete, pedindo o Enem em maio, pegou a diretoria do Inep de surpresa. Uma cisão se abriu no órgão. Do ponto de vista pedagógico, faz sentido que o Enem seja em maio, para que os estudantes consigam recuperar o tempo perdido. Mas, sob a ótica operacional, encavalar a realização do Enem 2020 com o início da preparação do exame de 2021 seria um tumulto, segundo fontes da autarquia.