Impetuoso, desmedido, esse amor não tem vergonha na cara! Altera o rumo das coisas, muda a velocidade do tempo, troca os planos, arreda do chão nossos pés que afundavam estúpidos, sem notar. Desarruma a cama e a casa, desafina a orquestra, tira o foco, incomoda, tumultua. O amor quando vem sem mais não deixa por menos. Bagunça o coreto, põe fogo no circo, senta e assiste.
Gente muito afeita a planos e métodos, agendas e estratégias não quer ver esse amor nem pintado de verde. Foge dele como as baratas correm do chinelo. Mas não tem jeito. O amor quando dá as caras é pra alterar o estado das coisas. Vem e melhora o mundo aprimorando os amantes.
Que raio de amor é esse que se contenta com a vida como está? Amor é rebuliço, inconformismo, reforma, transformação! Chega mudando tudo e não quer nem saber. Vê como é bonito esse negócio de amar, mudar e ser mudado pelo outro?
O amor é um movimento involuntário da vida. A gente ama para sobreviver. Vai vivendo e vai amando. Pode ver. Ninguém pede licença pra sair gostando de alguém. A gente gosta e pronto. Começa gostando um pouquinho, vai pensando na pessoa de noite, na solidão de nascença que vem com o sono, o coração sentindo uma alegria vaga, um alívio agradecido por haver no mundo quem desperte amor na gente. Aí descamba tudo.
A gente vai gostando mais. Como quem entra no mar devagarinho, com coragem e com respeito, solta o corpo lentamente, desde a praia onde é só espuma até o pé não tocar mais o chão e a gente sair boiando, a vida se tornando céu e sol, água e sal. Quanto mais a gente ama, mais a gente vive!
A vida é boa de qualquer jeito. Viver é sempre bom. Mas com amor ela é muito melhor. Quem ama tem nas mãos um atestado de que tudo, tudo vale a pena. Sentir amor é a vida em estado de utilidade franca. A gente nasce é para isso mesmo. Para amar e ser amado. Faz de tudo por aí até encontrar o que faz com amor. Quando encontra, sai pela vida construindo belezas, criando instantes de amar e provocar amor nos outros.
Chegar, todo mundo chega. A gente chega na vida do outro, o outro chega na vida da gente. Ora vai, ora fica. Quando vai, dá saudade, dá alívio, dá coisa nenhuma, tanto faz, tanto fez. Quando fica, ora é bom, ora não. Tem de tudo.
Mas tem um povo que chega do jeito mais bonito. Porque chega com amor! Chega assim, do nada, e acorda a poesia que dormia dentro da gente como um bicho no frio, à espera de quem a desperte com um sorriso largo e um calor na alma.
Essa gente vem sem mais e provoca tanto amor que transforma o rumo das coisas. Muda a si mesma, muda o outro, muda o mundo. Deus nos livre dos amores programados, presumidos, previstos em planilhas e agendas. Eu quero é um amor que venha do nada e mude tudo!