Quando resolvi vir morar em uma cidade pequena, Maricá –
deixando para trás, pelo menos por enquanto, o Rio de Janeiro e suas
facilidades – já esperava viver dias mais tranqüilos e cheios de ar puro. Aqui
em Maricá, há 1h30 de distância da capital, tenho a oportunidade de enxergar
cada estrela no céu e cada pôr do sol. Confesso que isso pode parecer brega,
mas para quem morava em um apartamento com janela para a cozinha do vizinho, eu
me sinto extremamente privilegiada em poder enxergar esses elementos gratuitos
e incríveis que o céu proporciona do meu jardim.
Com o tempo, descobri o quanto é maravilhoso não enfrentar
trânsito para realizar atividades simples, como ir ao salão de beleza ou à
academia. Descobri também que a maioria das pessoas aqui preza pela amizade.
Você vira amiga da manicure, do caixa de supermercado, dos professores da
academia, da nutricionista, do motorista de ônibus.
Quando vim pra cá, em dezembro de 2014, eu estava cansada de
tentar ser feliz em empresas que tolhem sua criatividade e energia. Decidi que
criaria a minha empresa, do meu jeito. Ela já existe, em formato home office,
e, aos pouquinhos, tem ganhado corpo e atraído projetos. Mas, como todo bom
empreendedor sabe, todo início é um início. Em outras palavras: não andava
tendo dinheiro nem para tomar um sorvetinho.
Me desesperar não era opção. Voltar a trabalhar no Rio também
não. Então lembrei que uma amiga tinha me convidado a participar de um grupo de
vendas na rede social Facebook, os famosos “desapegas”, aqui da região. Juntei
todas as roupas e acessórios que estavam ocupando espaço no meu guarda-roupa e
resolvi transformá-las em dinheiro. A coisa foi dando certo. Uma blusa aqui,
uma calça ali. Numa dessas vendas, a Ana Paula Avellar me falou de um encontro
de bazares que ocorria toda quinta-feira, em um clube. Você divulgava as peças
no grupo da rede social, marcada com as clientes lá e entregava os produtos.
Achei fantástico! Poderia utilizar apenas uma passagem e realizar várias vendas
ali.
Que surpresa foi quando percebi que lá não era apenas um local
de negócios, mas de vidas. De mulheres que decidiram correr atrás de ter sua
própria renda, ao invés de ficar dependendo de seus companheiros ou
choramingando pitangas na janela. A alegria que elas estampam nos rostos é
compensadora. Cada uma vai com um crachá para facilitar a identificação. Se
paga um valor simbólico para entrar no clube. E o network que acontece é digno
de grandes empresas.
Raquel Glos's |
A falta de compreensão por parte de algumas participantes
(lidar com o público nunca é fácil) e a necessidade de patrocínio são um dos
empecilhos que às vezes desanimam Raquel a continuar. Mas, como ela mesmo
falou, quando ela chega no encontro se sente a mulher mais feliz do mundo!
Ajudar as pessoas faz um bem danado. E isso a faz prosseguir. “Ter paciência,
gostar de ajudar, ter espírito de liderança e acima de tudo, amar o que se
faz”. Esses são os principais pontos para começar e fazer dar certo esse tipo
de encontro, diz a organizadora.
Além desse, existem outros bazares que acontecem na cidade
mensalmente, como o "Agora Enjoei" de Itaipuaçu, o bazar da quadra
esportiva de Inoã e muitos outros. As inscrições são sempre em conta para expor
os estandes e os preços das peças são mesmo acessíveis e justos. E na rede
social Facebook encontram-se também vários outros grupos de
"desapego", não só de roupas mas também de serviços, alimentação,
utencílios domésticos, móveis, carros e muito mais!
Acho que tenho aprendido uma coisa por aqui: a não subestimar
pequenas ações. A dizer sim a toda oportunidade de movimento e colheita de
frutos. Está sendo maravilhoso conhecer tantas pessoas. Saber um pouco da vida
de cada uma delas. De esvaziar os apegos e transformá-los em renda. Uma venda
sustentável e tão importante nesses tempos de consumismo. Está sendo incrível
me adaptar a um local diferente. E dizer sim a tantos sonhos que andava
guardando na gaveta enquanto sentava em cadeiras cheias de impessoalidade e de
cobranças por resultados. Me sinto grata por cada estrelinha que posso ver no
céu. E, toda vez que você sentir que precisa mudar algo em sua vida, lhe dou um
conselho. Não escute as pessoas que te incentivam a não sonhar. Ou te dizem que
você não deveria sair de onde está, porque já está confortável. Vá em frente.
Afinal, é como dizem: “seus sonhos estão há um passo da sua zona de conforto”.
Então, calce logo esse tênis e dê o primeiro passo!