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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O CORPO DEPOIS DA MATERNIDADE

A maternidade nos transforma o corpo, como nos transforma a alma.
Se nada mais pode ser igual do lado de dentro depois que gestamos e parimos nossos filhos, porque seria igual do lado de fora?

Viver deixa marcas. Por fora, por dentro. Crescemos, mudamos, aprendemos e nos transformamos. Abrir os braços para a vida significa permitir que ela imprima em nós suas manchas, suas cicatrizes, seus rabiscos que assinalam a passagem dos dias, dos meses, dos anos. Como podemos querer manter-nos iguais, imutáveis, sem transformação? Isso não seria privilégio, mas maldição. Por fora como por dentro, a vida nos pede mudança. Acolher e aprender a amar a marca da mudança em nós é permitir que o tempo nos tome pelas mãos, baile conosco, siga seu curso.
O que é, afinal, um corpo bonito? Quem define o belo? Quem traça a linha entre a beleza e a feiúra?
Beleza verdadeira é beleza de gente de verdade. Gente que chora, ri, tropeça, se machuca e se recompõe. Gente que vê passar os dias, que luta, que se delicia. Gente que ama, que goza, que cresce e amadurece, que se olha no espelho e gosta de perceber em si cada marca deixada por tudo aquilo que se viveu.
O que é o corpo feminino? O que deveria ser? Que corpo é esse que abriga tudo de mim: meus sonhos, meus medos, meus desejos, meus limites? Qual é o meu corpo, agora que sou mãe? Que histórias ele há de contar? Esse corpo que gerou vida dentro de si, que viu crescer gente do seu lado do avesso, esse corpo que pariu?
O corpo de mãe não é a pele lisa, editada pelo programa de tratamento de imagens. Não é o corpo das revistas de celebridade, estampando na capa a modelo e atriz de barriga chapada dois meses depois do nascimento do filho. Aquela barriga, pasmem, tem um custo: ela custa o precioso momento de olhar para dentro e reinventar o que se é, ela custa um vínculo que não se recupera, ela custa a presença que ninguém substitui, ela custa a amamentação, custa o colo, custa a livre demanda, custa o toque e a troca. Ela custa amor. Ela custa a vida.
E pode custar a felicidade. Porque da exposição desse corpo falso, desse corpo que esconde o que lhe marca e lhe diferencia, nasce o constrangimento. Constrangimento porque se tem um corpo de verdade, um corpo que vive a vida de todos os dias. Um corpo que engorda, emagrece, um corpo que enruga, que estica, um corpo que sobra, que falta.
Não, não é por aí. Não pra mim. É o outro lado o que me interessa. Eu quero ver exposto esse corpo real, bonito, vivido, feito de sentimento. Esse corpo que se dobra, que se contorce de dor, de prazer, de alegria, de desejo. Esse corpo onde se rabisca uma história, esse corpo que é único e não se compara a nenhum outro. A beleza dele é essa, e é a maior do mundo. A mais significativa também.
Eu quero poder gostar do meu corpo, sabê-lo parte de mim. E deixar que ele conte a minha história. Quer contar a sua?

Renata Penna do blog MAMÍFERA