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domingo, 29 de setembro de 2019

Cresce o número de adolescentes grávidas no Brasil


Os dados do governo demonstram que o número de adolescentes entre 10 e 19 anos que se tornam mães no Brasil vem aumentando nos últimos quatro anos. Só no ano passado, elas responderam por cerca de 31% do total de partos realizados nos hospitais do SUS. Cerca de 300 mil mulheres nessa faixa de idade foram submetidas à curetagem pós-aborto.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o número de adolescentes grávidas também está crescendo no país. Entre 2015 e 2017, o total de filhos gerados quando as mães tinham entre 15 e 19 anos quase dobrou: de 4.500 para 8.300. Ainda segundo o IBGE, nessa faixa de idade 18% das mulheres já engravidaram ao menos uma vez.

A cada dia no Brasil e no mundo aumentam o número de jovens que tem a sua vida interrompida por uma gravidez não planejada. Um estudo recente comprovou que existe um grande número de mulheres adultas com dificuldade de engravidar enquanto meninas sem nenhum preparo engravidam.

Só no Brasil são cerca de 700 mil meninas sendo mães todos os anos e desse total pelo menos 2% tem entre 10 e 14 anos, sendo que elas não têm nenhuma preparação psicológica e nem financeira para poder dar um bom futuro a essas crianças.

Apesar de o aborto ser uma prática proibida no Brasil – salvo em alguns casos – mais da metade das adolescentes grávidas da classe média alta, fazem uso dessa prática, quando não podem ou não querem essa gestação, muitas vezes fazem isso com o apoio dos próprios pais que acham que não é a hora do filho assumir tal responsabilidade.

Isso não quer dizer que as adolescentes pertencentes a uma classe social mais baixa não praticam o aborto. Praticam sim, e pior, utilizam métodos caseiros que uma ”amiga” disse que dá certo, objetos pontiagudos para atravessarem o canal do útero, remédios sem indicação médica…, pondo em risco muito maior a sua vida, do que se fosse feito por um profissional qualificado num
local adequado para tal procedimento.

Já não causa tanto espanto sabermos que meninas de 10, 11, 12 anos tenham vida sexual ativa, assim como aparecem em consultórios portando alguma doença sexualmente transmissível (DSTs) e ou grávida.

O que levaria então essas adolescentes a engravidar? Nunca foi tão divulgado os meios para evitar a gravidez como nos dias atuais, e mesmo assim, o número de adolescentes grávidas á cada vez maior. Existem vários fatores que contribuem com esse quadro:

• A falta de um projeto de orientação sexual nas escolas, família, comunidade de bairro, igrejas.
• A mídia é outro vilão nessa questão, exagerando na erotização do corpo feminino.
• Algumas pessoas que são vistas na passarela, revista, cinema e televisão são para os adolescentes verdadeiros ídolos, ídolos esses que passam uma imagem de liberação sexual, e a tendência de um fã é sempre copiar o que seu ídolo faz.
• A falta de informação dos pais de adolescentes é um fator fundamental. Não havendo em casa alguém que possa informá-los, que sirva de modelo, que tire suas dúvidas e angústias, como esperar dos adolescentes comportamentos mais adequados? Como querer que eles aguardem o tempo mais adequado para aproveitar a sexualidade como algo bom, saudável e necessário para o ser humano?

Devido a questões culturais, vergonha, preconceitos, muitos pais tem dificuldade de falar sobre sexualidade com o filho. Na maioria das vezes os recados são dados de forma indireta, e que nem sempre o filho entende. Como por exemplo: ”Não vá aprontar”.”Olha lá o que vai fazer”. Ou usa histórias envolvendo alguma conhecida, como: ”viu o que aconteceu com a fulana?”. Em
muitos casos a orientação sexual dos pais para os filhos, se limita a dizer para as meninas, sobre os cuidados que elas devem tomar com relação à higiene no período menstrual. E para os meninos, dizem: Cuidado para não pegar nenhuma doença.

Os adolescentes, além de serem bombardeados pelas transformações fisiológicas e anatômicas, estão envolvidos também seus sentimentos relacionados a essas mudanças. E como ela irá se relacionar com tudo isso? Uma questão fundamental envolvida aqui é a auto-estima e a auto-imagem.

Poder admirar-se, perceber-se como um ser que merece atenção, cuidar-se, assim como se gostar, são ingredientes fundamentais para um desenvolvimento saudável. Mas para isso é necessário ter uma família que o apóie, estimule, e incentive suas atitudes positivas, que deixe fazer, agir sozinho, porém com a segurança de que se precisar de ajuda, terá.

Isso é o ideal. Mas a realidade que se vive é outra. Quantos tiveram ou têm essa chance? A maioria vive de outra maneira. Maneira essa que resulta numa imagem de si pobre e frágil.
Para compensar a falta de valores internos, o adolescente busca valores externos. Como nessa busca o objetivo ideal não é alcançado, daí para as drogas e a gravidez é um pequeno passo.
Muitos adolescentes possuem esse pensamento, que na grande maioria das vezes é inconsciente: ”Por que cuidar de um corpo que intimamente não tem valor?” Para que falar de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez com meu parceiro se ele pode ficar chateado e me abandonar? Pra que arriscar perder alguém, que eu gosto e que me dá pelo menos um pouco de atenção?

Para amenizar um pouco esses conflitos e angústias é necessário que se valorize os aspectos positivos dele. Qualquer tipo de orientação sexual só dará resultado quando o adolescente sente-se acolhido, valorizado e compreendido, e depois passe a contar com o apoio necessário para tomar atitudes e alterar seus comportamentos.

É nessa fase que as pessoas costumam traçar metas e diretrizes para sua vida. Porém como realizá-las diante de tanta precariedade como a falta de carinho, afeto, compreensão, acesso aos meios de comunicação, lazer, cultura e esporte. Também não passa pela sua cabeça exercer uma profissão que lhe exija o nível universitário, ou mesmo fazer uma viagem que vá adiante de seu Estado. E quando definem o que realmente querem, olha ao seu redor e deparam com todas essas dificuldades. Então, o que fazer? Diante dessa situação muitos lançam mão de algo que possam cuidar, dizer que é seu: Um filho.

Assim ela poderá dar a seu filho o afeto que ela não teve, até mesmo sufocar pelo excesso. Ou quem sabe, não dará, pois não saberá como dar afeto.

Agora com um filho começa uma nova fase. Se já era difícil fazer algo para ela mesma, agora será mais difícil ainda. Como conseguir um emprego para se manter? Como ter acesso ao lazer, esporte e cultura? Sem falar nas atividades que ela terá de se privar pela circunstância do bebê, na qual também é importante para seu desenvolvimento, como sair com as amigas, ir a festas, dançar… pois
agoraelatem outras responsabilidades: Cuidar do bebê.

A adolescência, não é o melhor período da vida para engravidar. Grávida a jovem tem que lidar com as tarefas de se tornar independentes, já que tem um dependente sob sua responsabilidade.

Aos 11 anos, elas já são mães


Por ano, quase 400 adolescentes ficam grávidas antes dos 14; mas há garotos que já são chefes de família
O senso mostra que há no Brasil 43 mil meninas com menos de 14 anos que são casadas. A repórter Danielle França mostra como é a vida delas no interior de Sergipe. Muitas abandonaram os estudos e se casaram por vontade própria.

Ao receber a notícia que mudaria por completo o rumo de suas vidas, elas não tiveram dúvidas: deram para as amigas a coleção de bonecas Barbie. Ele bem que tentou evitar, mas teve que abandonar o futebol. Para esses adolescentes, o adeus precoce à infância – e a alguns de seus sonhos – veio com a confirmação de que teriam um filho, aos 11 anos.

Histórias como a de Ana, João e Maria (os nomes são fictícios para preservar as identidades dos pré-adolescentes) acontecem por todo o Estado. Em 2016, apenas em 19 dos 78 municípios não foram registrados casos de mães com menos de 14 anos. No mesmo ano, pelo menos 362 bebês filhos de adolescentes nasceram nos hospitais capixabas.

Sem brincadeiras

São meninas – e até meninos – que, de uma hora para a outra, deixaram para trás brincadeiras de infância, conversas com as amigas, festas e videogames para vivenciar transformações que nem sempre conseguem acompanhar. “Eu ainda não acredito”, relata Ana, que cortou o cabelo de suas bonecas antes de entregá-las às amigas. Ela, que já é mãe de uma menina de 1 ano e 7 meses, aos 14 anos está grávida, novamente.

A jovem – que sonhava ser veterinária, mas parou de estudar na 5ª série – ficou grávida do namorado João quando ambos tinham 11 anos. A surpresa do garoto não foi menor ao receber a notícia: “Fiquei horas pensando, sem pensar em nada”, conta. Abandonados pelos pais, decidiram morar juntos, e João começou a trabalhar.

Hoje, mal tendo completado 15 anos, está desempregado. “A vida é muito difícil. Sempre falta alguma coisa”, relata, olhando para a filha que já não tem mais fraldas para usar. A jovem família reside em três cômodos num bairro carente. O único apoio que recebem é de uma irmã mais velha de João, que ainda não se conforma: “Ele é só um garoto”.

Nova educação

São por situações como essa que Margarita de Matteos, coordenadora do Programa de Atendimento a Vítimas de Violência Sexual Pavivis, defende que a educação sexual seja ensinada já no ensino infantil. “Tem que aprender desde pequeno a entender o corpo”, destaca.

Ela apoia sua afirmação na precocidade de algumas crianças. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita em Vitória em 2016, e apenas no 9º ano escolar, mostra que 2% dos alunos entrevistados tiveram sua primeira relação sexual com 9 anos ou menos – outros 16%, na faixa de 10 a 14 anos.

Outra que reforça a tese é Fernanda Stange, psicóloga da UTI Neonatal do Hospital das Clínicas (Hucam). Acostumada a lidar com adolescentes que chegam à unidade cada vez mais novas, sabe que falta a elas o direito de escolher a hora certa para engravidar. “Discutem a legalização do aborto, mas ninguém se questiona por que esses jovens estão engravidando tão cedo”, pondera Fernanda. Algo que alguns pais pensam ser natural. “Hoje é comum”, diz Sílvia, cujas filhas foram mãe aos 15 e 13 anos.

Visão mágica

O relato dos adolescentes mostra que a sexualidade precoce, o desconhecimento do próprio corpo – com a chegada da primeira menstruação – e a visão mágica de que nada lhes acontecerá são alguns dos responsáveis por esse tipo de gravidez.

A maioria não usou nenhum método anticoncepcional. “Não gosto de tomar remédios, e meu namorado não gosta de camisinha”, conta Patrícia, que mal completou 15 anos e já leva nos braços um bebê de 2 meses.

 “Se alguém ficasse com meus filhos, iria para o Rio de Janeiro tentar ser jogador de futebol “

João foi pai aos 11 anos e aos  15 será novamente

Por medo de serem punidos, muitos desses adolescentes tendem a esconder a barriga e a não realizar o pré-natal. Muitas gestações só são descobertas lá pelo terceiro ou quinto mês. Nesses casos o principal risco é para o bebê. “Descobrem tarde demais, quando as boas oportunidades para interferir já passaram”, relata Geisa Barros, pediatra do Hucam. O resultado são partos prematuros e bebês doentes, até com má formação genética. Alguns são abandonados ainda na maternidade.

Mas o maior risco é o socioeconômico. Embora não seja restrita aos pobres, a gravidez antes dos 14 anos é mais frequente nos bairros mais carentes. Cerca de 45% dessas mães são da Grande Vitória. São filhos de famílias que já enfrentam problemas, como o uso de drogas, pais ausentes e de mães que também tiveram filhos muito cedo.

Fora da escola

O resultado são adolescentes fora da escola, sem chances no mercado de trabalho, que não têm renda para sustentar sozinhos seus filhos. Uma vida marcada pela falta de planejamento, de perspectivas, de opções, como pontua Célia Márcia Birchler, referência técnica na saúde do adolescente da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). “É uma perpetuação da pobreza.”

Na maior parte dos casos, as jovens vão criar seus filhos sozinhas. São raras as histórias como o de Patrícia, que foi viver com seu namorado, na casa da sogra. No Estado, segundo o IBGE, não há casos de garotos que disseram ter oficializado a relação com menos de 15 anos. Só quatro garotas fizeram isso em 2016. Do total de casamentos em 2016, só 15% das meninas com mais de 15 a 19 anos casaram-se, e apenas 3% dos homens.

A maioria vai precisar do apoio da família. Como Maria, que aos 10 anos se encantou com o vizinho de 22 anos. O resultado dessa relação foi um bebê – hoje, com 3 meses – que mudou a sua vida. A garota chegou a passar a reta final da gravidez em um abrigo, por suspeita de estupro. “Ele era meu namorado”, diz sobre o homem procurado pela polícia.

 “Fico chateada de não poder sair com minhas amigas ou quando acham que meu filho é meu irmãozinho” 

Maria – Mãe aos 11 anos

Hoje ela vive em outro bairro. Pouco sai, recebe as amigas em casa e não tem bonecas. “Tenho um filho”, desabafa. Sua mãe, uma tia e a avó revezam-se nos cuidados com ela e o bebê, que tem problemas cardíacos. É com essa ajuda que a jovem tímida e de olhos sorridentes sente que vai poder realizar seu sonho de ser modelo ou professora.

Bem diferente de João, o garoto que foi pai aos 11 anos e que dia a dia vê seus planos de ser jogador de futebol se esvaírem e sua vida ser resumida: “São apenas sonhos”, arremata. E cada vez mais distantes, como o de muitos outros adolescentes que, apesar da idade, já são pais ou mães.

Fonte: gazetaonline
Contribuiu para esta matéria o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)