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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

UMA GUERREIRA COM “MÃOS DE OURO”: A HISTÓRIA DA MENINA DO CROCHÊ!


 Habilidade nasce realmente com cada ser? Ou no decorrer da nossa vida podemos desenvolver, e até mesmo sob enorme força de vontade ou grande desafio conseguimos aprender aquilo que nunca imaginávamos ter capacidade para tal. 

E ai, vemos que o mundo está repleto de seres dotados das mais interessantes capacidades.

Nessa matéria, vamos conhecer D. Edith Sodré (70 lindos anos muito bem vividos) que mostrou ainda muito jovem à sua avó que conseguiria fazer as peças mais lindas de crochê, mesmo que em momento nenhum contasse com o apoio dela.

Nascida em Cabuçu de Itaboraí (na época São Gonçalo, hoje Itaboraí), sua infância foi com sua mãe e o seu pai, um pequeno agricultor. Nesta vida de lavoura, onde havia fartura (pois comiam tudo o que plantavam) dada pela terra, faltava outros gêneros básicos. Eram momentos difíceis. Seu pai já é falecido, mas ainda vive com sua mãe (D Ilda, 94 anos) num sítio entre Itapeba e o Retiro.

Sua vida sempre foi de muita luta, a infância muito difícil principalmente por que precisamos morar na casa da sua avó, uma senhora extremamente racista, e que tinha grande aversão pela jovem Edith, uma criança negra. Sua avó, nunca chamou Edith pelo seu nome e só a chamava de “negra Moçambique”.

Mas a avó de Edith era eximia crocheteira, bordava pontos de cruz, era costureira, mas nunca se dispôs em ensinara nada para a neta “negra”, apesar de Edith ser apaixonada por tudo que sua avó fazia. Ela na verdade só ensinou algo à sua irmã e sua prima, pois a primeira neta foi ela quem a criou e se trancava no quarto com a sua irmã e sua prima e Edith, ficava na janela ouvindo a avó explicar para as meninas como era o ponto de cruz. Edith, da janela, só em ouvir e pouco olhar (embora fosse o suficiente para ela) já entendia como tudo era feito e foi aprendendo tudo, com os dons que Deus lhe emprestou.

O crochê foi ficando mais difícil, sua irmã e sua prima não conseguiam aprender e então a mãe de Edith pediu que a avó lhe ensinasse a arte e teve como resposta uma frase seca: “não vou perder tempo não, vou dar apenas uma explicação e vou parar”.

Mas a explicação foi mais do que suficiente e em apenas um dia, Edith aprendeu e com o tempo foi se aperfeiçoando.

Na época, na roça não havia meios de uma sobrevivência adequada, ai Edith passou a cortar capim para lojas de vidros, para lojas de colchões, fez tapetes, até que um dia vendo uma revista de fotonovela (que faziam muito sucesso na época) viu o anúncio de uma revista de crochê  e pediu ao seu pai que a ajudasse (na época Cr$ 7,50 – sete cruzeiros e cinquenta centavos). Mas quando a revista chegou pelos Correios, Edith já tinha algum dinheiro, fruto do seu trabalho e não precisou da ajuda do pai. Foi ai que deslanchou, fazendo inúmeras peças apenas estudando e observando o que estava na revista.

Começou fazendo três peças, colocando na bolsa e saindo para vender. Vendeu tudo e tinha dinheiro até para voltar para casa de ônibus. Estava no ponto da praça Padre Carvalho Batalha onde hoje existe o laboratório Sérgio Franco no centro de São Gonçalo.

Uma senhora, chamada Miriam puxou conversa com Edith perguntando se ela sabia fazer vestido de crochê, por que a mãe dela (D. Fina) queria um e estava difícil encontrar quem fizesse.

Mesmo sem nunca ter feito algo parecido, Edith afirmou que fazia. Miriam que forneceu quatro novelos (o vestido era cumprido). Fez então o primeiro vestido no estilo rococó, manga ¾, lindo, uma obra de arte. Miriam adorou o vestido e ficou mais impressionada quando Edith devolveu dois novelos que não foram utilizados. Ficou tão satisfeita com tamanha honestidade que encomendou outro vestido para outra pessoa. Pediu 8 novelos, o vestido era mais complexo e com muito mais detalhes e é claro, ficou lindo. As encomendas iam se multiplicando para D. Fina e para Miriam.

Um certo dia a professora Heloisa Helena estava com casamento marcado e queria um vestido diferente. Foi mais uma indicação de Miriam, mostrando tudo o que Edith fazia e a encomenda de um vestido de noiva, todo de crochê foi fechado. Na época, na casa de Edith ainda não existia luz elétrica e ela só trabalhava durante o dia pois a noite, a luz da lamparina erra muito fraca. O vestido ficou pronto em uma semana.

Depois disso, ficou conhecida como a “Menina do Crochê” e até hoje é conhecida assim.

Teve um Box no Mercado das Artes em Maricá durante anos, mas o horário de funcionamento impossibilitou que continuasse por lá.

Mesmo adoentada, devido a uma bronquite, Edith não parava e confessa que ganhou muito dinheiro com suas peças, verdadeiras obras de arte.

Hoje, com 70 anos, sente saudades daquela época, mas continua na luta e fazendo coisas cada vez mais incríveis. 

Viúva, sente saudades do marido que afirma ter sido maravilhoso com ela. Foram 30 anos juntos, uma vida de sacrifícios, mas, mais uma superou e com seu crochê (agora vendendo produtos da Natura) está se levantando novamente.

Essa é um pouquinho da linda história da “Menina do Crochê”.

Telefone para encomendas: (21)  99652-2210.

Confira fotos (de Pricilla Darmont) de diversos trabalhos de D. Edith acessando: 

https://www.facebook.com/media/set/?vanity=pery.salgado.3&set=a.168214201704495